Dois homens em uma arena chutam cabeças e esmurram
fígados, e isso rende o delírio da galera. Um quer a deformação do corpo do
outro, e isso rende fama e fortuna. UFC (Ultimate Fighting Championship) quer dizer mesmo é Ultraje Feroz do Corpo. Mas para que ninguém fique a pensar na degradação
física e espiritual do momento, é preciso fazer dessa rinha de galos um
espetáculo televisivo.
A TV Globo, que se recusava a cobrir as lutas do MMA (as
artes marciais mistas), gasta sua semana esportiva explicando que agora, com
novas regras, as lutas são “um pouco menos violentas do que o vale-tudo”, como
disse o apresentador Luís Ernesto Lacombe. A sinceridade foi logo corrigida na fala
seguinte: “Mas é bem bacana”.
É bem bacana, então, ver a brutalidade elevada à categoria
de esporte “civilizado”. É bem bacana, então, assistir a violência de socos,
pontapés e sufocamentos. É bacana ver o público se extasiar quando um homem é
espancado no chão (mas agora o juiz intervém mais rápido. Antes que um
assassine o outro ao vivo e em HD, né?).
(A Globo escalou Galvão Bueno para narrar o combate. Quem assistir, ouvirá um "É teeeeee...trico?!". Os fãs do UFC não queriam o Galvão de locutor das lutas. Mas o que eles queriam? Galvão de calção e Anderson Silva na narração?)
As lutas de vale-tudo eram só um pouco piores do que as do
UFC. Só paravam quando um dos lutadores estava desfigurado. No UFC, ao que
parece, há que se ter não só a destreza e o domínio de artes marciais
conjugadas, mas também estratégia e inteligência para vencer o combate.
No entanto, assim como a filosofia espiritual que cerca a
tradição das artes marciais orientais foi banida dos filmes de “kung-fu”, nas
lutas do MMA também não restou um traço da espiritualidade de antigos
guerreiros. Sobram apenas chutes no rosto e cheiro de sangue.
Homero descreveu assim o feroz e mítico combate entre Epêo e
Euríalo: “Rangem as mandíbulas ao receberem os golpes [...] e o divino Epêo,
lançando-se sobre o adversário, aplica-lhe tão tremendo golpe, que Euríalo cai
inerme, vomitando negros coágulos de sangue”. Os nomes gregos saíram, mas os
apelidos conservam o apelo mitológico: Minotauro, Cigano, Spider, The Beast.
Mas outros chamam a fúria pelo nome: Demolition Man e African Assassin, que
dispensam traduções.
O UFC está de acordo com as regras de entretenimento de uma
civilização doente. É a nossa civilização que produz filmes que consagram a
velocidade e a ferocidade, filmes feitos com muita adrenalina e pouco neurônio,
filmes que glorificam machões que falam uma piadinha após decepar outros
machões.
Espetáculo da meia-noite, o Ultraje Feroz do Corpo aplaca
nossa primitiva sede de sangue por alguns minutos. Depois, cada um faz suas
orações e vai dormir.
Comentários
O problema é que isso é uma inversão total!
Não se admiram mais os rapazes que saibam conduzir uma conversa em vez de apenas as mãos e os olhos, e as moças que os admiram são consideradas caretas. Admiram-se os piás que vão à academia, que "saram" os muques para ficar como esses lutadores de vale-tudo, como se só por isso pudessem andar empertigados feito galos.
Degeneração e involução das melhores, mas isso não vai nem à superfície do problema!
Se os lutadores estão ali sabem dos riscos que vão passar,tudo o que terão de enfrentar,é uma escolha deles, então não tem nada de mais de assistir o UFC ou ser lutador.
Afifeh - 1ºE.M.
Nao acho que seja errado o publico que grita e aplaude as pessoas que estao la dentro.Porem e um bom texto.
Aluna:Shele caroline 1 A.M
Daniela 1º ano CASFS
Claro que há outros esportes violentos, mas geralmente a violência excessiva é coibida pelas regras.
Mas a linha do "excesso" no UFC fica bem longe.
A sociedade escolhe seus heróis: UFC, velozes e furiosos, games como Night Trap. A pancadaria ainda reina.
PS: agradeço os comentários dos alunos que se deram ao trabalho de vir até este blog e expressar a opinião. Este blog não é um castelo de marfim com aquela velha opinião formada sobre tudo. É um work in progress. Tks!
Peço desculpas por dar minha opinião mais uma vez, mas acho que a Daniela deu sua opinião apenas sobre as lutas de UFC, às vezes não criticamos algo pra não ofender e não acabar falando algo errado, e concordo com ela de que cada um tem seu espaço e sabe o que quer fazer da vida, ou ao menos deveria. Mas isso não quer dizer nenhum pouco que ela não tenha opinião sobre a ética que as pessoas deveriam ter sobre como você citou, estar em um carro e ouvir funk no ultimo volume. Acredito que cada um deveria ter um pouco de juízo e saber que também existem opiniões e milhares de gostos musicais por aí, não somente o seu ou o meu. E assim, como todos deveriam ter a ética de saber em qual volume ouvir as musicas, devem ter a ética de não sair atrás do carro de som querendo xingar a pessoa por ouvir musica no ultimo volume. Não ter a opinião sobre um determinado assunto ou não se importar muito com ele, não quer dizer que não temos opiniões sobre outros assuntos ou a importância.
Parabéns pelo blog.
Beatriz Dale.
Daniela,
você diz que nem concorda nem discorda do texto. Ok, é o que costumamos dizer quando o assunto nos é indiferente. E assim é fácil dizermos "não critique" ou "não julgue", sendo que ao agir assim também estamos criticando e julgando. Não há problema com a crítica ou o julgamento, desde que não sejam mentirosos ou caluniosos.
A gente fala isso com certa empáfia, tipo "vejam como eu tenho opinião própria e não me importo com o que os outros dizem e fazem". Mas aí passa um carro tocando funk no último volume, atrapalha o que estamos fazendo e lá se foi nosso relativismo de meia-tigela, nossa indiferença quanto à liberdade individual.
Você está certa quanto à liberdade de escolha. Porém, você deve saber também que escolhas afetam não apenas o sujeito que fez a escolha, mas também outras pessoas.
Beatriz, às vezes o modo como nos referimos a algo pode dizer que não nos importamos com certas escolhas. Mas nós mesmos nos vemos agindo de forma diferente quando as livres escolhas alheias entram em conflito com nosso modo de pensar e agir.
PS: tô gostando dessa turma, Douglas Reis. Parece que é uma galera que colocam o professor pra pensar.
Ricardo Cabral- 1°EM
Depende do referencial que vc usar para medi-lo.
O fato de haver resultados diversos é a maior prova da existência do livre arbítrio (livre escolha), ou liberdade de julgamento, que é o que significa, ou o conceito de tal acertiva!
O livre arbítrio existe e tem resultados!
Portanto,penso que cada um deve tomar suas próprias decisões, visto que, tais sejam as corretas e as melhores para si.
Francelle Mira- 1º Ano CASFS
Realmente, acredito e concordo que de uns tempos para cá, filmes, programas, animações, entre outros, tem apresentado um nível de violência acima do aceitável. Porém, como praticante de Wushu (Kung Fu) a cerca de 2 Anos, posso te garantir, que a "filosofia espiritual" encontrada no verdadeiro Wushu, esta intacta, é uma ofensa dizer que Kung Fu seria apenas um sistema de luta, pois como abrange as barreiras políticas e religiosas ao redor do mundo é considerada uma arte não só de luta mas a arte de se superar e de viver a própria arte em si. Além da habilidade em combate e ganho de saúde o wushu trabalha o desenvolvimento pessoal, e mental, persistência e respeito aos limites, estrutura o corpo e a mente ajudando no equilíbrio psíquico e auxiliando a pessoa, a saber ser derrotada e ainda assim encarar novos obstáculos e desafios sem desistir. Kung Fu é muito mais que simples filmes e/ou pancadaria, é uma arte, é um estilo de vida. Nunca presenciei nenhum ato de “pancadaria” ou maldade, um dos nossos princípios é o respeito, e isso garanto-lhe, mais uma vez, que não se perdeu.
Pratico Kung Fu Fei Hok Phai e tenho orgulho de dizer isto.
Voltando ao assunto central... Mal assisto UFC, acho meio sem sentido, mas vejo como algo que simplesmente “esta ai” assim como todas as outras coisas boas ou ruins que existem no mundo, e cabe a cada um de nós escolher se vamos ou não, vibrar, torcer ou brutalizar o mesmo. Nosso mundo esta repleto de dualidades, afinal não existiria o bem, sem o mal, e vice versa. Em tudo dependendo o lado que escolhemos e como praticamos, estaremos fazendo o bem ou não, e isso não é só ligado as Artes Marciais ou MMA, até mesmo na religião, na política, ou em qualquer outra área de nossas vidas.
Em minha opinião, a verdadeira banalização da violência, se encontra nas ruas, casas ou até mesmo no ambiente de trabalho, onde pessoas matam, arrombam, quebram, invadem, roubam, muitas vezes se valendo de passeatas onde na verdade deveriam estar reivindicando seus direitos de forma pacifica e civilizada.Um grande exemplo são os “alunos” da USP, Camelos em São Paulo, e por ai a fora... Agora pergunto: São praticantes de artes marciais? Acredito que não. Há muito mais violência nas imagens das noticias diárias, do que nas lutas de UFC exibidas na TV.
Há pessoas que acreditam que estão acima do bem ou mal, e que julgam que todas as outras que não seguem sua linha de pensamento, estão erradas ou pertencem ao mal. Tudo isso é muito relativo, pois tudo no mundo é feito por pessoas, e como seres humanos, somos falhos, portanto, encontraremos as pessoas certas e erradas em todas as atividades e/ou caminhos tomados no mundo. Errado mesmo é uma pessoa pregar ou querer parecer algo, e fazer escondido exatamente tudo aquilo que sua crença condena. Esse tipo de atitude transmite pior influencia do que a competição de uma luta. Afinal a violência esta ai fora, basta olhar a sua volta... Zai Jiam !
Gustavo Zanoni Braz 1 EM.
Não vejo simplesmente violência, vejo pessoas superando a dor por um objetivo. Pessoas que geralmente tem uma origem muito humilde e carregam uma história de superação, por exemplo o Minotauro, ele foi atropelado por um caminhão permaneceu um ano internado e teve como orientação a pratica de artes marciais...
Por trás de toda a aparente brutalidade existem pessoas que se respeitam, todo lutador é um profissional muito bem treinado e preparado, acredito que isso pode ser algo que fica camuflado nas divulgações da luta, é explorado sempre um lado de total rivalidade e por isso não posso vir e simplesmente que você está errado em seu posicionamento, em ter essa opinião, já que a imagem gerada pelos empresários é essa e isso realmente vende, o que é uma pena, pois a maioria das pessoas não consegue ver o que há por trás das caras feias, orelhas deformadas e sangue, acredito que se conseguissem retirariam várias lições, eu aprendi que você não é nada se não ter foco e determinação, se você não correr atrás do que quer, ninguém fará por você e se fizer isso não fará de você uma pessoa melhor, apenas uma pessoa mais fraca, aprendi que as adversidades podem ser o melhor combustível, é só ter fé e levantar a cabeça, para muitos são coisas evidentes da vida, mas eu aprendi ao assistir e ao lutar e acredito que isso me fez uma pessoa melhor.
Que todos nós possamos reconhecer que Deus é o único que merece ser rodeado por todos, assim como muitos rodeiam o UFC.
Gabriel Gatti
1º Ano EM.
O Adriano e a Emily também concordam: a violência das ruas é bem pior que a dos combates do UFC. No UFC, a violência é consentida de parte a parte.
Claro que a brutalidade vista no octógono não necessariamente gera lutadores brutos fora dali. Ao contrário, eles podem levar uma vida bem pacata.
Porém, vejamos. O futebol, apesar das tramoias e defeitos que venha a ter, tem algo chamado "fair play", que consiste em não se aproveitar, por exemplo, de um jogador adversário que esteja machucado e caído no chão. Os times costumam parar o jogo nessa hora.
No boxe, os lutadores usam luvas grandes e no boxe olímpico os boxeadores usam um protetor para a cabeça.
Já no UFC, parece haver uma menor preocupação com a integridade física dos lutadores. Da[i a violência ser intensa e parecer tão cruel, ainda que faça parte do jogo. Como alguém comentou acima, os empresários dos lutadores os expõem a situações muito arriscadas.
PS: para quem não está entendendo a presenç de tantos alunos comentando por aqui, isso foi uma ideia do professor deles, o pr. Douglas Reis, que os estimulou a ler e comentar esse texto (você não os obrigou não, né, Douglas? rsrs). Portanto, agradeço ao amigo e aos alunos que leram a postagem, manifestaram sua opinião e contribuíram para o diálogo e o debate. valeu mesmo.
Queria ter encontrado um vídeo que vi tempos atrás e achei muito interessante, durante a luta um dos participantes usando um golpe chamado mata leão faz com que o adversário desmaie e assim que o juiz para a luta, o 'vencedor' é o mais preocupado em fazer o oponente voltar do desmaio, ele realmente ficou preocupado, é um vídeo muito legal e que mostra o respeito que um tem pelo o outro, é como se eles tivessem um código moral e ético próprios...
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