Nos últimos cinco anos, o time da Barcelona foi declarado uma das maiores equipes de futebol de todos os tempos. Esse posto foi obtido não só pela incrível série de conquistas e troféus, mas também por apresentar ao mundo da bola um estilo de jogo que joga e não deixa o adversário jogar.
Acontece que esse time joga três partidas, perde duas e empata uma, e se vê fora dos dois maiores campeonatos que disputava: o Espanhol e a Liga dos Campeões da Europa. E lá vem a grita: "o Barcelona já era", "Messe pipocou", "bem feito!".
É natural que um time tão avassalador encontre quem o despreze. Ganhar uma vez é legal. Mas ficar ganhando sempre, aí é demais. É como chegar pra jogar uma pelada na quadra e ver o mesmo time ganhar toda vez. Começa a perder a graça. A derrota do Barcelona salvou o futebol da chatice previsível.
Mas o Barcelona faz jogo limpo, não é retranqueiro, busca o gol avidamente, seus jogadores são badalados mas não são vistos em baladas, nem fazem penteados chamativos nem dancinha da moda quando marcam um gol.
Imagine o nível do desprezo caso esse time sempre campeão fosse o Chelsea, cujo dono é um bilionário russo de fortuna suspeita e que tem jogadores acusados de racismo (John Terry), bebedeira (Frank Lampard) ou que são simplesmente malas mesmo (Drogba). Ou se fosse o Real Madrid do marrento técnico José Mourinho e do galã Cristiano Ronaldo!
E o Barcelona perdeu por quê?
Perdeu porque seu padrão de jogo, a bola de pé em pé até chegar ao gol, não se alterou quando encontrou um time nitidamente inferior como o Chelsea que se trancou a defesa, ocupou os espaços das tabelinhas do Barcelona e sobreviveu com dois raros e fatais contra-ataques. Conclusão: tática previsível.
Perdeu porque Xavi e Iniesta não conseguiam tabelar, Daniel Alves mal conseguia cruzar e Messi perdeu um pênalti e não conseguiu enfileirar a defesa. Esse time ganhar é previsível. O Messi não jogar nada três partidas seguidas é coisa que não se explica. Conclusão: súbita ineficiência.
O pequeno Davi não conseguia usar a armadura de um guerreiro israelita e venceu o gigante Golias na base da pedrada. O Chelsea, que não sabe jogar como o Barcelona, venceu o melhor time do mundo na base do ferrolho. Conclusão: quem não pode, se sacode.
O lado ruim dessa história é que, se o Barcelona aprimorou um modelo tático de posse de bola em que ele jogava e não deixava jogar, o Chelsea se saiu com outro modelo: nem ele joga nem deixa o Barcelona jogar. É feio, mas de vitória alcançada não se olha os dentes.
O lado bom é que o futebol nem sempre é previsível. E isso é ótimo. Na vida fora dos gramados, o feio não ganha do bonito, a tartaruga não vence a lebre, o pequeno raramente vence o grande. No futebol, até a derrota tem seu encanto.
A primeira foto é uma imagem rara - Messi envergonhado. A segunda não é aquele guri do "Para nossa alegria". É o Ramires, do Chelsea, ouvindo a torcida cantar para a alegria dele.
Comentários
O time inferior esta vez foi o Barça, por um gol. Já vi o Chelsea jogar muito bem contra o Barça, melhor que quando estavam em 10, sem zagueiro no campo, e o Barça safou-se até o final com muita sorte.
Esta vez a teve o Chelsea, sem dúvida, mas pelo esforço necessário para vencer o Barça, fora de casa, com um jogador a menos, acho que se tenha alguma licença de jogar diretamente.
Era a 4a vez que o Chelsea jogou em dez contro o Barça na semi fimal da Liga dos campeões nos últimos 10 anos. Aprendeu ganhar assim, afinal.
E contou com um goleiro inspiradíssimo e muita sorte também (O Barça acertou muito a trave).
Obrigado pelos comentários.