É finda a luta quadrienal que são os jogos pan-americanos. É tempo de contabilizar os ganhos, deduzir as perdas, enfim, fechar o comitê para balanço. Em clima de festa, louva-se o recorde de medalhas brasileiro (thanks, Tio Sam, por não enviar seus principais atletas), a engenharia das arenas esportivas (obrigado, Lula, por transferir os 2 bilhões a mais do orçamento do PAN para a conta da Viúva).
É tempo também de aprender que:
É tempo também de aprender que:
O Pan do Brasil é uma mulher: a despeito das braçadas recordistas de Tiago Pereira (não vale comparar com Mark Spitz, por favor), e das pernas velozes e resistentes de Franck Caldeira e Hudson Fonseca, o Pan tomou a forma feminina. O que marcou mesmo foi o surgimento de novas estrelas – Jade, Fabiana, Yanne, Keila, - a consolidação de outras – Marta, Maurreen, Ednanci, - o ocaso de algumas – Daniele Hipólito, Janete. Até mesmo quando perdiam, como as meninas de vôlei, perdiam com destaque e afã de vitória.
O brasileiro só é patriota no esporte: o hino toca, a bandeira sobe, a garganta seca, as lágrimas caem. Essa seqüência se repetiu nas 54 vezes em que os atletas nacionais receberam a medalha de ouro. Aquele choro incontido pode inquietar, principalmente quando se leva em conta que nossas autoridades costumam aproveitar a euforia da conquista para faturar alguns pontinhos junto aos eleitores. Quando Pelé, Tostão e cia. ganharam a Copa de 70, o povo celebrava o Tri nas ruas, enquanto os porões da ditadura se refestelavam na tortura. Exaltava-se o Brasil Grande, as verdes matas, o céu anil, o verdadeiro “espetáculo do crescimento” pré-Lula, o “ame-o ou deixe-o”, a flâmula verde-amarela, enquanto os militares verde-oliva escondiam a Transamazônica, o endividamento sem lastro, a censura deslavada, a corrupção nas estatais, os governantes biônicos e a perseguição a rodo.
Rejeita-se o ufanismo americano como símbolo de uma alienação imposta via colonização econômico-cultural. A bandeira tremulando nos finais de filmes de guerra cheira a patriotada para vender a imagem do americano xerife global. E o povo norte-americano, vendo toda a pujança econômica e poderio cultural de seu país, adota uma postura sinceramente patriota, exagerada até.
Mas, e nós do lado de baixo do Equador? Há razões que nos tornariam nacionalistas contumazes? Seria porque o país é belo e gigante pela própria natureza? Seria porque o brasileiro é um forte e não desiste nunca? Chega de ironia. Somos patriotas só no esporte porque as conquistas esportivas são os únicos momentos onde se percebe integridade nas atitudes. O brasileiro nota quando os atletas procuram fazer de sua façanha individual uma realização da coletividade nacional. Pudera muitos dos políticos aprendessem a fazer de suas ações particulares uma conquista nacional em vez de extrair dividendos privados de suas efetivações públicas.
Desculpe, mas eu vou chorar: a frieza dos anglo-saxões e seus descendentes é ressaltada como sinal de controle emocional diante da prova. Já o brasileiro chora a bandeiras despregadas, o que é visto como prova de despreparo psicológico e submissão ao colonizador, um "complexo de vira-latas" tardio.
Nada disso. Toda vez que vejo uma american girl (ou uma meninota canadense) equilibrar-se impassível numa trave de 10 cm, ou então um nadador anglófono imperturbável na sua raia dourada, lembro que o caminho da glória desses vencedores, em geral, é acarpetado desde a infância.
Como cobrar domínio dos sentimentos quando uma ginasta teve uma criação desastrada, quando um judoca passou fome, quando uma corredora enfrentou a seca, quando um corredor foi vítima de racismo, quando uma jogadora de futebol foi estigmatizada preconceituosamente?
Por isso, eles choram. Choram durante e depois da disputa. Quando ganham, choram e riem na cara do destino cruel que lhes assombrava desde a meninice.
No Pan, o Rio é uma Zurique: se, antes dos jogos, a cidade carioca estava uma Bagdá, se o Rio vivia todo dia um capítulo de 24 Horas, durante o Pan, os tiros ouvidos eram só pra dar a largada de competições. A idéia é realizar um Pan anualmente em cada grande cidade a fim de zerar as taxas de insegurança urbana.
Mulher, onde estão os teus agressores?: se o Rio virou Zurique, o Brasil tomou a forma de um imenso Maracanã, uma arena poliesportiva onde a glória dos vencedores escondeu os agressores da doméstica, encobriu as vacas milionárias do Calheiros e, tristemente, se não fosse pela maior tragédia da aviação brasileira, o caos aéreo estaria fadado a ser uma cotidiana e repetitiva nota jornalística.
Nem só de Pan vive o homem: a cobrança é justa e de direito e perguntar não ofende: Senador, onde estão os comprovantes fidedignos? Senhores do apagão aéreo, de quem (de quantos) é a responsabilidade pelas tragédias? Sr. Nuzman, e o amparo pós-Pan aos nossos atletas? Cabral (o Sérgio), o Rio voltará a tudo como dantes?
O brasileiro só é patriota no esporte: o hino toca, a bandeira sobe, a garganta seca, as lágrimas caem. Essa seqüência se repetiu nas 54 vezes em que os atletas nacionais receberam a medalha de ouro. Aquele choro incontido pode inquietar, principalmente quando se leva em conta que nossas autoridades costumam aproveitar a euforia da conquista para faturar alguns pontinhos junto aos eleitores. Quando Pelé, Tostão e cia. ganharam a Copa de 70, o povo celebrava o Tri nas ruas, enquanto os porões da ditadura se refestelavam na tortura. Exaltava-se o Brasil Grande, as verdes matas, o céu anil, o verdadeiro “espetáculo do crescimento” pré-Lula, o “ame-o ou deixe-o”, a flâmula verde-amarela, enquanto os militares verde-oliva escondiam a Transamazônica, o endividamento sem lastro, a censura deslavada, a corrupção nas estatais, os governantes biônicos e a perseguição a rodo.
Rejeita-se o ufanismo americano como símbolo de uma alienação imposta via colonização econômico-cultural. A bandeira tremulando nos finais de filmes de guerra cheira a patriotada para vender a imagem do americano xerife global. E o povo norte-americano, vendo toda a pujança econômica e poderio cultural de seu país, adota uma postura sinceramente patriota, exagerada até.
Mas, e nós do lado de baixo do Equador? Há razões que nos tornariam nacionalistas contumazes? Seria porque o país é belo e gigante pela própria natureza? Seria porque o brasileiro é um forte e não desiste nunca? Chega de ironia. Somos patriotas só no esporte porque as conquistas esportivas são os únicos momentos onde se percebe integridade nas atitudes. O brasileiro nota quando os atletas procuram fazer de sua façanha individual uma realização da coletividade nacional. Pudera muitos dos políticos aprendessem a fazer de suas ações particulares uma conquista nacional em vez de extrair dividendos privados de suas efetivações públicas.
Desculpe, mas eu vou chorar: a frieza dos anglo-saxões e seus descendentes é ressaltada como sinal de controle emocional diante da prova. Já o brasileiro chora a bandeiras despregadas, o que é visto como prova de despreparo psicológico e submissão ao colonizador, um "complexo de vira-latas" tardio.
Nada disso. Toda vez que vejo uma american girl (ou uma meninota canadense) equilibrar-se impassível numa trave de 10 cm, ou então um nadador anglófono imperturbável na sua raia dourada, lembro que o caminho da glória desses vencedores, em geral, é acarpetado desde a infância.
Como cobrar domínio dos sentimentos quando uma ginasta teve uma criação desastrada, quando um judoca passou fome, quando uma corredora enfrentou a seca, quando um corredor foi vítima de racismo, quando uma jogadora de futebol foi estigmatizada preconceituosamente?
Por isso, eles choram. Choram durante e depois da disputa. Quando ganham, choram e riem na cara do destino cruel que lhes assombrava desde a meninice.
No Pan, o Rio é uma Zurique: se, antes dos jogos, a cidade carioca estava uma Bagdá, se o Rio vivia todo dia um capítulo de 24 Horas, durante o Pan, os tiros ouvidos eram só pra dar a largada de competições. A idéia é realizar um Pan anualmente em cada grande cidade a fim de zerar as taxas de insegurança urbana.
Mulher, onde estão os teus agressores?: se o Rio virou Zurique, o Brasil tomou a forma de um imenso Maracanã, uma arena poliesportiva onde a glória dos vencedores escondeu os agressores da doméstica, encobriu as vacas milionárias do Calheiros e, tristemente, se não fosse pela maior tragédia da aviação brasileira, o caos aéreo estaria fadado a ser uma cotidiana e repetitiva nota jornalística.
Nem só de Pan vive o homem: a cobrança é justa e de direito e perguntar não ofende: Senador, onde estão os comprovantes fidedignos? Senhores do apagão aéreo, de quem (de quantos) é a responsabilidade pelas tragédias? Sr. Nuzman, e o amparo pós-Pan aos nossos atletas? Cabral (o Sérgio), o Rio voltará a tudo como dantes?
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