Na semana passada, li uma entrevista na revista
Veja que só fez aumentar minha admiração na capacidade humana de fantasiar a realidade vivida. A entrevista era com a socialite Wilma Magalhães (
foto), de quem eu jamais lera uma linha sequer de suas gotas de sabedorias. Esta semana, ao ler a seção de cartas da mesma revista, vi que alguns leitores relatavam que tinham se divertido com as respostas da socialite, um diagnosticava um caso clínico de fuga da realidade, outra indignava-se com a falta de assunto da revista ao entrevistar alguém como Wilma.
Wilma, socialite que costumava temperar seus jantares com pó de ouro, está numa prisão em Brasília cumprindo pena de 6 anos por estar envolvida num esquema de legalizar propinas recebidas por ninguém menos que João Alves, um dos mais célebres anões do Orçamento. Como se vê, a vida de Wilma era um conto de fadas, e sua Terra do Nunca era Brasília. Ali, rodeada de anõezinhos sortudos, a fada era ela, claro. Pois, as fadas brilham e, segundo Wilma, “meu [dela] brilho é muito grande”.
Ela também revela que está escrevendo um livro no qual abrirá a cortina do passado e descreverá ao mundo o calvário de uma socialite. Sua intenção, nobre e desinteressada em auto-promoção, é que sua experiência de vida possa “ajudar as famílias que passam o mesmo”. Só falta dizer que o título será Os ricos também choram.
Em suas reminiscências literárias, ela contará que, como toda estrela, ela tem luz própria. Assim, mesmo passando uma temporada numa cela que tem o tamanho do lavabo de sua casa, Wilma resplandece o brilho das verdadeiras socialites. Por isso, as funcionárias do presídio brigam para vê-la jantando uma humilde lasanha com um humilde suco de uva. Para o ensino das criaturas que povoam as colunas sociais, ela dirá que nem tudo na vida é um sutiã Victoria’s Secret, a lingerie das estrelas, principalmente quando se está na prisão.
Ainda com humildade, a marca de suas sandálias, a fada Wilma escreverá que foi ingênua ao acreditar em dinheiro de anões e um dia, ainda que inocente como Sininho, esteve na cadeia “pagando pelo erro” cometido.
A futura memorialista Wilma pode lançar esse livro em forma de fascículos encartados na revista Caras. Assim, sua vida, que já é uma revista Caras aberta, poderá servir de alento aos apaniguados da fama. Com o 1º fascículo, os leitores poderão ganhar de brinde o dvd “Boninho e Narcisa Tamborideguy se divertem atirando ovos do seu apartamento”.
Como socialite não é de ferro, ela já adianta na revista algumas pérolas de admoestação e padrões de convívio em sociedade. Nesse novíssimo dicionário do contrato social, constarão os verbetes:
- dinheiro: “dinheiro pequeno é para gastar à toa”.
- muito dinheiro: “dinheiro grande eu gasto mesmo”.
- quantia impublicável de dinheiro: “já comprei dois rolex no mesmo mês. O primeiro de 6.000 xxxx (moeda impublicável). Depois, vi uma amiga com outro rolex de 10.000 xxxx. Não resisti e comprei um pra mim”.
- homem: “José Roberto Arruda ( governador-DF). Dorme às 3 da manhã, já acorda às 5, era casado, tinha amante, dispensou as duas, e agora está de namorada nova. É charmoso e bonito”.
- bonito?: “poder e beleza estão misturados”.
- bebida: “a gente bebe tudo mesmo” ( sua adega exibia 3 mil garrafas).
- moda: “é possível passar um ano sem repetir roupa”.
- pensamento: “o importante é onde a mente está, não o corpo” (a mula-sem-cabeça concordaria. Ou não.)
Wilma está, de fato, realizando o sonho de toda chique endinheirada: lançar moda. No caso de Wilma, a presidiária das estrelas, o modelo (ela diria “atitude”) da moda é o prison chic. Diferente daquelas celebridades americanas, que não apregoam bom comportamento e cujo segundo lar é uma clínica de reabilitação – esta é a moda rehab chic –, nossa fada-socialite mantém a pose mesmo no cárcere, admite os “equívocos” que a levaram à prisão e vai entrar no ramo beletrista da auto-ajuda.
A entrevista com Wilma Magalhães pode ser acusada de tudo, menos de não retratar uma certa classe social que vê o mundo como um satélite do seu umbigo. Em níveis normais, é a mesma classe que venera Lily Marinho e Hebe Camargo, freqüenta a ilha de Caras e boceja nos concertos da Sala São Paulo. Em níveis patológicos, é a classe que põe fogo em índio, bate em doméstica, atira ovos do apartamento e adora ser flagrada em suas peripécias amorosas.
Por outro lado, em sua sinceridade (muitos diriam “autenticidade”) planejada ou não, Wilma Magalhães espelha em suas palavras a busca pela ostentação, a frivolidade festiva, o novo "homem ideal", a atração alcoólica, o pensamento irrefletido, o desejo de auto-promoção de muita gente, não importa a classe social.
Comentários
Hoje pela manhã, me surgiu uma grande vontade de dar uma lida nalgum texto em seu blog, confesso que minha pretensão inicial era de me deparar com mais uma análise musical, inclusive tenho acompanhado esse seu trabalho. Pra se entender como está meu espírito hoje, é interessante dizer que estou de jejum objetivando minha vida espiritual e o sucesso de um grupo masculino de oração intercessória recém formado em minha igreja.
Estou certo de que o Espírito Santo me conduziu até o texto "A prisão de CARAS". Acho que precisava ler algo do tipo pra me conscientizar de que nesse mundo tenebroso Satanás é quem reina. Talvez - até posso afirmar - seu artigo não tenha um cunho espiritual, mas me levou a uma reflexão profunda. É Triste ver como as socialités fantasiam a vida real; Destaco o que disse sobre essa classe de pessoas, quando comentou: "Em níveis normais, é a mesma classe que venera Lily Marinho e Hebe Camargo, freqüenta a ilha de Caras e boceja nos concertos da Sala São Paulo. Em níveis patológicos, é a classe que põe fogo em índio, bate em doméstica, atira ovos do apartamento e adora ser flagrada em suas peripécias amorosas". A entrevista com Wilma na Veja e consequentemente seu artigo, seriam cômicos, se não fossem trágicos.
Odeio lixo cibernético, mas assumo que tenho o link do blog "Nota na Pauta" em meus favoritos. Não porque suas teses se harmonizam com as minhas, mas porque o blog não torna minha capacidade de pensar obsoleta.
Fique com Deus e que Ele continue te abençoando.
Danilo Chaves
Sinto pena de pessoas tão vazias que não possam enxergar a realidade.
wilma nasceu de um chão batido e venceu, teve câncer e venceu, foi presa por incompetência jurídica e novamente venceu!
Uma pessoa brilhante, guerreira e humilde deve ser interpretada como um exemplo de garra e vitória.
Wilma é uma empresária geradora de empregos que sempre ajudou as pessoas de Brasília a crescerem.
Usem suas energias para produzir algo bom!