Samira Makhmalbaf era uma jovem cineasta de 17 anos quando começou a dirigir seu primeiro filme, A Maçã (Sib, 1998, co-produção Irã/França), que apresenta a vida de duas irmãs gêmeas que há anos não tinham contato social. Tanto a mãe, cega e trajando uma burka indevassável, quanto o pai, um pedinte, não permitem que as meninas saiam de casa para brincar ou ir à escola. São os vizinhos, por meio de um abaixo-assinado, que fazem com que uma assistente social venha até aquela casa e dê início a um processo radical de libertação das crianças (por certo as assistentes sociais ocidentais não concordarão com o método usado pela colega de profissão iraniana).
A história é real e é vivida na tela pelos seus personagens reais: os pais e as meninas, as quais mal conseguem articular a fala, caminham estranhamente e não sabem como se comportar socialmente. Em entrevista ao jornalista Kleber Mendonça Filho, Samira Makhmalbaf explicou que a história das meninas presas em casa pelos pais ganhou enorme destaque na mídia, em Teerã. “Começamos a fazer o filme apenas quatro dias depois que toda a imprensa abriu espaço para a história. Isso significa que o que foi captado, nesse curto período de tempo, era o real, ou as conseqüências sociais e psicológicas do acontecido”. Misto de documentário e ficção, o filme é extremamente tocante no retrato das crianças que descobrem o sentido de liberdade ao andar pela vizinhança e ter o primeiro contato com outras crianças.
Não espere a narrativa melodramática e chorosa do cinema comercial. O relato não adere ao padrão fácil de comoção, sendo mesmo desconcertante por apresentar-se como narrativa de ficção, embora seja um registro de ações da vida real. Equilibrando cenas poéticas (como a caminhada das irmãs pelas ruas junto com um menino que carrega uma maçã), realistas (o pai, de 65 anos, que diz que ninguém nunca se importou com ele e agora está em todos os jornais e se sente desonrado) e enigmáticas (a cena final que se abre a vários sentidos), o filme é também uma chance de ver os habitantes do Oriente Médio retratados como pessoas e não como terroristas sem rosto.
Em A Maçã, ao explorar com rara delicadeza o cotidiano de pessoas invisíveis socialmente, a jovem diretora nos mostra uma metáfora sobre a condição da mulher no Irã e sobre a necessidade de socialização.
Como escreveu Carlos Drummond no final do poema O homem, as viagens, o ser humano precisa
"pôr o pé no chão
A história é real e é vivida na tela pelos seus personagens reais: os pais e as meninas, as quais mal conseguem articular a fala, caminham estranhamente e não sabem como se comportar socialmente. Em entrevista ao jornalista Kleber Mendonça Filho, Samira Makhmalbaf explicou que a história das meninas presas em casa pelos pais ganhou enorme destaque na mídia, em Teerã. “Começamos a fazer o filme apenas quatro dias depois que toda a imprensa abriu espaço para a história. Isso significa que o que foi captado, nesse curto período de tempo, era o real, ou as conseqüências sociais e psicológicas do acontecido”. Misto de documentário e ficção, o filme é extremamente tocante no retrato das crianças que descobrem o sentido de liberdade ao andar pela vizinhança e ter o primeiro contato com outras crianças.
Não espere a narrativa melodramática e chorosa do cinema comercial. O relato não adere ao padrão fácil de comoção, sendo mesmo desconcertante por apresentar-se como narrativa de ficção, embora seja um registro de ações da vida real. Equilibrando cenas poéticas (como a caminhada das irmãs pelas ruas junto com um menino que carrega uma maçã), realistas (o pai, de 65 anos, que diz que ninguém nunca se importou com ele e agora está em todos os jornais e se sente desonrado) e enigmáticas (a cena final que se abre a vários sentidos), o filme é também uma chance de ver os habitantes do Oriente Médio retratados como pessoas e não como terroristas sem rosto.
Em A Maçã, ao explorar com rara delicadeza o cotidiano de pessoas invisíveis socialmente, a jovem diretora nos mostra uma metáfora sobre a condição da mulher no Irã e sobre a necessidade de socialização.
Como escreveu Carlos Drummond no final do poema O homem, as viagens, o ser humano precisa
"pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver".
Filme assistido no dia 26/10 no Canal Futura.
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