Qual a diferença entre cavalos bufando antes da largada e vinte e dois homens perfilados antes de uma partida de futebol? É que os cavalos não sabem cantar o Hino Nacional. A piada, para alguns, ofende a criatura humana. Se bem que, dependendo do jogo, a piada ofende os cavalos.
Brasil e Itália entram em campo, perfilam-se respeitosamente, toca-se o hino pátrio, mão no peito, voz tímida, olhar tenso. Comecemos com o hino. No ano passado, ouvimos direto de Goiânia a interpretação de Zezé de Camargo do famoso “Ouviram do Ipiranga”, verso cuja única razão de existir parece ser a de servir de pegadinha em provas de português (quem é o sujeito? Ipiranga? As margens plácidas? Povo heróico?).
Esquecendo que o cantor romântico, quando cantava as sílabas maiúsculas de “ó pátria aMAda, idolaTRAda”, desviava-se das notas certas, até que ele não se saiu mal. Nem sentiu falta do irmão Luciano.
No jogo dessa terça-feira (10/02), uma fanfarra acelerou tanto o andamento do nosso hino que desafiava até a dicção de locutor de jóquei. Vai ver o maestro tinha percebido nos ensaios que o hino nacional brasileiro divide-se em: 1ª estrofe – duração de três minutos; com a 2ª estrofe – dura três dias. O hino é tão belo quanto interminável, principalmente com aquela introdução triunfal (repetida entre as estrofes).
Mas, e o jogo? A história explica. Alguns historiadores dizem que os renascentistas italianos já praticavam o futebol, mas não como aquele que os ingleses viriam a “inventar”. Dizem que Leonardo era um gênio do esporte, fazendo carreira como técnico de estratégias indecifráveis, daí a existência de um código Da Vinci que só ele sabia ensinar aos jogadores.
Voltando a história real, o esporte chamava-se Calcio (e assim é chamado até hoje na Itália). Esporte nada. Aquilo era uma disputa para ver quem se saía melhor no domínio de uma bexiga de boi e o evento era uma verdadeira batalha. Táticas, espírito guerreiro, rivalidade. Calcio designava “pontapé”, “coice”. O resto é por conta da sua imaginação.
No Brasil pós-Charles Muller, o futebol virou sinônimo de diversão, arte, de algo lúdico. Por isso chamamos de jogo (giuoco), uma brincadeira. Na Itália, chamam de “gara” – disputa, competição. No primeiro tempo da partida entre as seleções, ambas tentaram o jogo, mas foram os meninos brasileiros que se divertiram mais. Na segunda etapa, a Itália partiu para o ataque, em ambos os sentidos. Atacou o Brasil, sem eficiência européia e atacou as pernas dos jogadores brasileiros, revivendo o sentido original do Calcio. O resultado é que o giuoco venceu a gara por 2x0.
Não é sempre assim. Na Copa de 1982, o Brasil jogava um futebol-fantasia, um futebol encantado. Mas a seleção italiana estava num dia competitivo e Paolo Rossi não quis saber de brincadeira ou diversão. Minha meninice não suportaria a arte sair de campo derrotada daquela forma e não tive mais grandes prazeres com os jogos da nossa seleção. Nem mesmo com as futuras conquistas de Copa do Mundo (94 e 2002). Aquela seleção de Junior, Falcão, Sócrates e Zico é meu pé de laranja lima.
Brasil e Itália entram em campo, perfilam-se respeitosamente, toca-se o hino pátrio, mão no peito, voz tímida, olhar tenso. Comecemos com o hino. No ano passado, ouvimos direto de Goiânia a interpretação de Zezé de Camargo do famoso “Ouviram do Ipiranga”, verso cuja única razão de existir parece ser a de servir de pegadinha em provas de português (quem é o sujeito? Ipiranga? As margens plácidas? Povo heróico?).
Esquecendo que o cantor romântico, quando cantava as sílabas maiúsculas de “ó pátria aMAda, idolaTRAda”, desviava-se das notas certas, até que ele não se saiu mal. Nem sentiu falta do irmão Luciano.
No jogo dessa terça-feira (10/02), uma fanfarra acelerou tanto o andamento do nosso hino que desafiava até a dicção de locutor de jóquei. Vai ver o maestro tinha percebido nos ensaios que o hino nacional brasileiro divide-se em: 1ª estrofe – duração de três minutos; com a 2ª estrofe – dura três dias. O hino é tão belo quanto interminável, principalmente com aquela introdução triunfal (repetida entre as estrofes).
Mas, e o jogo? A história explica. Alguns historiadores dizem que os renascentistas italianos já praticavam o futebol, mas não como aquele que os ingleses viriam a “inventar”. Dizem que Leonardo era um gênio do esporte, fazendo carreira como técnico de estratégias indecifráveis, daí a existência de um código Da Vinci que só ele sabia ensinar aos jogadores.
Voltando a história real, o esporte chamava-se Calcio (e assim é chamado até hoje na Itália). Esporte nada. Aquilo era uma disputa para ver quem se saía melhor no domínio de uma bexiga de boi e o evento era uma verdadeira batalha. Táticas, espírito guerreiro, rivalidade. Calcio designava “pontapé”, “coice”. O resto é por conta da sua imaginação.
No Brasil pós-Charles Muller, o futebol virou sinônimo de diversão, arte, de algo lúdico. Por isso chamamos de jogo (giuoco), uma brincadeira. Na Itália, chamam de “gara” – disputa, competição. No primeiro tempo da partida entre as seleções, ambas tentaram o jogo, mas foram os meninos brasileiros que se divertiram mais. Na segunda etapa, a Itália partiu para o ataque, em ambos os sentidos. Atacou o Brasil, sem eficiência européia e atacou as pernas dos jogadores brasileiros, revivendo o sentido original do Calcio. O resultado é que o giuoco venceu a gara por 2x0.
Não é sempre assim. Na Copa de 1982, o Brasil jogava um futebol-fantasia, um futebol encantado. Mas a seleção italiana estava num dia competitivo e Paolo Rossi não quis saber de brincadeira ou diversão. Minha meninice não suportaria a arte sair de campo derrotada daquela forma e não tive mais grandes prazeres com os jogos da nossa seleção. Nem mesmo com as futuras conquistas de Copa do Mundo (94 e 2002). Aquela seleção de Junior, Falcão, Sócrates e Zico é meu pé de laranja lima.
Comentários