Chorar assistindo a um filme não é demérito pra espectador algum. Quando um casal faz as pazes ou o filho retorna a casa ou uma comunidade saúda o herói e as lições edificantes ressoam tão alto quanto o volume da trilha sonora melosa, eis os sinais para lavar a alma e os olhos. Às vezes depende mais do estado de espírito do prezado espectador do que propriamente do melodrama da cena assistida. Há pessoas que, a certa altura da vida, estão com a sensibilidade tão à flor da retina que são capazes de chorar até durante um comercial de banco.
Steven Spielberg é um desses profissionais da limpeza emocionada do globo ocular alheio. São raros os espectadores que mantêm a pose nas cenas mais dramáticas de A Cor Púrpura, no aperto de mão no final de A Lista de Schindler (que violino belíssimo, hein, John Williams?) ou na despedida do garoto Elliott e o E.T. (precisava aqueles metais e tímpanos tão altos, John Williams?).
Românticas incuráveis de todas as épocas inundam os lencinhos na saga de Scarlett O’Hara em ...E o Vento Levou, de 1939, e com o casal de náufragos do Titanic, quase sessenta anos depois. As sessões da tarde dos anos 80 fizeram muito marmanjo esconder os olhos lacrimosos com o filho do boxeador do melodramalhão O Campeão. E duvido que você segure as lágrimas no clássico A Felicidade Não se Compra. Este é de 1946, mas o diretor Frank Capra dominava a arte da lágrima derramada (e por esse filme vale o choro incontido).
Até o malvisto cine tupiniquim consegue fazer chorar. Muitas vezes, de raiva, eu entendo. Mas cante a primeira moda caipira quem não chorou junto com os Dois Filhos de Francisco. No meu caso, esse eu assisti durante uma viagem de ônibus. Meu irmão experimentou o mesmo “constrangimento” no ônibus, mas assistindo ao Menina de Ouro. Ele chegou a enviar uma e-queixa para a viação responsável, porque, convenhamos, isso é expor demais um sujeito.
Fazer o espectador chorar também não é demérito algum para um filme. Pode ser um choro epifânico, de estar diante de uma obra de arte como O Labirinto do Fauno ou A Fraternidade é Vermelha; pode ser um choro de indignação, de ver a tragédia social representada na tela, como em As Vinhas da Ira ou Roma Cidade Aberta; pode ser apenas uma furtiva lágrima agradecida pelo destino dos personagens, como em Um Sonho de Liberdade ou A Vida dos Outros.
Às vezes, vale até forçar a barra e sair à cata de lágrimas e níqueis. Afinal, é disso que Roliúdi vive. O Caçador de Pipas é um dos recentes exemplos de cinema-com-mensagem com um olho (emocionado) na história e outro (cego) na bilheteria. Nada contra, se pelo menos o diretor fosse honesto na hora de filmar a vida de um homem em débito consigo mesmo. Quando criança, morando em Cabul, esse homem traiu um leal amigo. E toda a parte da infância é muito bem filmada, incluindo as cenas das pipas cortando o céu do Afeganistão.
Após a invasão russa, o menino e seu pai fogem para os Estados Unidos. E aí começam os problemas. Do filme, diga-se. A narrativa é atropelada, os eventos se sucedem rapidamente, não dá tempo da gente se envolver com os novos personagens. A coisa degringola de vez quando o homem, já crescido, volta ao Afeganistão para expiar a culpa. Para mim, em nenhum momento as cenas expressam alguma carga de remorso. No máximo, inspiram uma certa compaixão e os bons sentimentos, o que não é desprezível. Mas o desenrolar da história se torna muito artificial; tudo é tão inverossímil quanto a barba falsa do personagem. Nem sobra tempo para ficar um pouco sentimental.
Guardei minhas lágrimas. Não consegui chorar pelo filme derramado.
Steven Spielberg é um desses profissionais da limpeza emocionada do globo ocular alheio. São raros os espectadores que mantêm a pose nas cenas mais dramáticas de A Cor Púrpura, no aperto de mão no final de A Lista de Schindler (que violino belíssimo, hein, John Williams?) ou na despedida do garoto Elliott e o E.T. (precisava aqueles metais e tímpanos tão altos, John Williams?).
Românticas incuráveis de todas as épocas inundam os lencinhos na saga de Scarlett O’Hara em ...E o Vento Levou, de 1939, e com o casal de náufragos do Titanic, quase sessenta anos depois. As sessões da tarde dos anos 80 fizeram muito marmanjo esconder os olhos lacrimosos com o filho do boxeador do melodramalhão O Campeão. E duvido que você segure as lágrimas no clássico A Felicidade Não se Compra. Este é de 1946, mas o diretor Frank Capra dominava a arte da lágrima derramada (e por esse filme vale o choro incontido).
Até o malvisto cine tupiniquim consegue fazer chorar. Muitas vezes, de raiva, eu entendo. Mas cante a primeira moda caipira quem não chorou junto com os Dois Filhos de Francisco. No meu caso, esse eu assisti durante uma viagem de ônibus. Meu irmão experimentou o mesmo “constrangimento” no ônibus, mas assistindo ao Menina de Ouro. Ele chegou a enviar uma e-queixa para a viação responsável, porque, convenhamos, isso é expor demais um sujeito.
Fazer o espectador chorar também não é demérito algum para um filme. Pode ser um choro epifânico, de estar diante de uma obra de arte como O Labirinto do Fauno ou A Fraternidade é Vermelha; pode ser um choro de indignação, de ver a tragédia social representada na tela, como em As Vinhas da Ira ou Roma Cidade Aberta; pode ser apenas uma furtiva lágrima agradecida pelo destino dos personagens, como em Um Sonho de Liberdade ou A Vida dos Outros.
Às vezes, vale até forçar a barra e sair à cata de lágrimas e níqueis. Afinal, é disso que Roliúdi vive. O Caçador de Pipas é um dos recentes exemplos de cinema-com-mensagem com um olho (emocionado) na história e outro (cego) na bilheteria. Nada contra, se pelo menos o diretor fosse honesto na hora de filmar a vida de um homem em débito consigo mesmo. Quando criança, morando em Cabul, esse homem traiu um leal amigo. E toda a parte da infância é muito bem filmada, incluindo as cenas das pipas cortando o céu do Afeganistão.
Após a invasão russa, o menino e seu pai fogem para os Estados Unidos. E aí começam os problemas. Do filme, diga-se. A narrativa é atropelada, os eventos se sucedem rapidamente, não dá tempo da gente se envolver com os novos personagens. A coisa degringola de vez quando o homem, já crescido, volta ao Afeganistão para expiar a culpa. Para mim, em nenhum momento as cenas expressam alguma carga de remorso. No máximo, inspiram uma certa compaixão e os bons sentimentos, o que não é desprezível. Mas o desenrolar da história se torna muito artificial; tudo é tão inverossímil quanto a barba falsa do personagem. Nem sobra tempo para ficar um pouco sentimental.
Guardei minhas lágrimas. Não consegui chorar pelo filme derramado.
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