Melhor do que um filme para a família é o ato de uma família assistir junto a um filme apropriado. Rir, emocionar-se, entreolhar-se, compreender a mensagem. Particularmente, não sou entusiasta de filmes com “mensagens edificantes”. Não por causa do tema e da importância real da mensagem. O problema, em geral, é a forma canhestra de realização utilizada que atrapalha a comunicação: diálogos do pior dramalhão, enquadramentos primários, atuações medíocres. Dá a impressão de que deixaram o Clube das Mães tomar conta da câmera enquanto o diretor está negociando seu próximo filme edificante para as massas.
Falando nisso, a produtora Pixar tem sido uma mãe para os espectadores, mas sem esquecer o apuro técnico e a excelência da narrativa. Não é difícil perceber que seus filmes não pertencem ao entulho que Roliúdi despeja desavergonhadamente sobre o mundo.
Em seus filmes-família, o tema central é quase sempre, claro, a família, sendo que os roteiristas da Pixar estão atentos às diferentes configurações familiares, como aquelas formadas por pai e filho (Procurando Nemo), mãe e filhos (Toy Story) ou grupo comunitário (Vida de Inseto). Mas há espaço para aquela formação familiar que infelizmente tem sido a mais atacada de todas, aquele núcleo social “obsoleto” formado por pai, mãe e filhos, como é o caso da família de super-heróis de Os Incríveis.
O filme não perde tempo com divagações sobre como a família é o monstro repressor da autonomia individual e agora-sou-um-pote-até-aqui-de-mágoa etc. Assim, esta animação não cai na tola generalização de mostrar a família como mais uma raiz de todos os males. Ela mostra que, sim, famílias enfrentam problemas de relacionamento, mas a porta de saída não é a melhor solução. Ao contrário, fazer coisas juntos pode fazer uma grande diferença.
A história é simples: super-heróis passam a ser um incômodo para as pessoas comuns e são obrigados a levar uma vida comum. O Sr. Incrível vira auxiliar de escritório, sua esposa, a Mulher-Elástica, se torna uma senhora do lar, e a família se completa com um bebê, uma garota introvertida com ares de emo e um adolescente explosivo. Isso não lhe parece bem comum?
Saudoso dos tempos de heroísmo reconhecido, o pai e maridão aceitará uma missão que, contra suas expectativas, vai fortalecer os corroídos laços de família. Se fosse só isso, esta animação poderia se converter num monturo de lágrimas e humor pastelão. Os Incríveis, porém, tem tal domínio de expressões que consegue o feito de ser tanto uma fantasia infanto-juvenil com cenas de ação vibrantes como também uma comédia de costumes e um ótimo melodrama familiar.
A família, a princípio, esfacela-se pela desatenção do pai na criação dos filhos, abalado pela mediocridade do seu novo emprego; pelo nomadismo da família (eles têm que mudar de cidade cada vez que sua identidade é descoberta); pela convivência nada amistosa entre irmãos cujos poderes são duramente reprimidos pela família e pela sociedade.
O casal de super-heróis entende que salvar um casamento é mais difícil e heróico quanto derrotar os vilões. Como eu disse no início do texto: fazer coisas juntos pode ser uma boa resposta para as demandas de afeto e segurança que envolvem uma família. Não à toa, após uma aventura bem-sucedida, o espevitado filho do casal diz: “Eu amo essa família”. O garoto enfatiza a aventura, mas não deixa de ressaltar o contentamento de ter feito tudo aquilo junto com sua família.
Há cenas de ternura incrivelmente sincera por parte de personagens de cartum (o amor cotidiano entre marido e mulher é mostrado de forma honesta); há citações e sátira ao mundo do cinema e do gibi (a costureira Edna é responsável por parte delas); há uma trilha sonora formidável. Mas é a cena em que uma redoma erguida por um componente da família os protege da destruição que tem muito a nos dizer: a construção de uma família saudável depende dos valores autoatribuídos pela própria família. E isso é a mais incrível aventura das famílias.
Falando nisso, a produtora Pixar tem sido uma mãe para os espectadores, mas sem esquecer o apuro técnico e a excelência da narrativa. Não é difícil perceber que seus filmes não pertencem ao entulho que Roliúdi despeja desavergonhadamente sobre o mundo.
Em seus filmes-família, o tema central é quase sempre, claro, a família, sendo que os roteiristas da Pixar estão atentos às diferentes configurações familiares, como aquelas formadas por pai e filho (Procurando Nemo), mãe e filhos (Toy Story) ou grupo comunitário (Vida de Inseto). Mas há espaço para aquela formação familiar que infelizmente tem sido a mais atacada de todas, aquele núcleo social “obsoleto” formado por pai, mãe e filhos, como é o caso da família de super-heróis de Os Incríveis.
O filme não perde tempo com divagações sobre como a família é o monstro repressor da autonomia individual e agora-sou-um-pote-até-aqui-de-mágoa etc. Assim, esta animação não cai na tola generalização de mostrar a família como mais uma raiz de todos os males. Ela mostra que, sim, famílias enfrentam problemas de relacionamento, mas a porta de saída não é a melhor solução. Ao contrário, fazer coisas juntos pode fazer uma grande diferença.
A história é simples: super-heróis passam a ser um incômodo para as pessoas comuns e são obrigados a levar uma vida comum. O Sr. Incrível vira auxiliar de escritório, sua esposa, a Mulher-Elástica, se torna uma senhora do lar, e a família se completa com um bebê, uma garota introvertida com ares de emo e um adolescente explosivo. Isso não lhe parece bem comum?
Saudoso dos tempos de heroísmo reconhecido, o pai e maridão aceitará uma missão que, contra suas expectativas, vai fortalecer os corroídos laços de família. Se fosse só isso, esta animação poderia se converter num monturo de lágrimas e humor pastelão. Os Incríveis, porém, tem tal domínio de expressões que consegue o feito de ser tanto uma fantasia infanto-juvenil com cenas de ação vibrantes como também uma comédia de costumes e um ótimo melodrama familiar.
A família, a princípio, esfacela-se pela desatenção do pai na criação dos filhos, abalado pela mediocridade do seu novo emprego; pelo nomadismo da família (eles têm que mudar de cidade cada vez que sua identidade é descoberta); pela convivência nada amistosa entre irmãos cujos poderes são duramente reprimidos pela família e pela sociedade.
O casal de super-heróis entende que salvar um casamento é mais difícil e heróico quanto derrotar os vilões. Como eu disse no início do texto: fazer coisas juntos pode ser uma boa resposta para as demandas de afeto e segurança que envolvem uma família. Não à toa, após uma aventura bem-sucedida, o espevitado filho do casal diz: “Eu amo essa família”. O garoto enfatiza a aventura, mas não deixa de ressaltar o contentamento de ter feito tudo aquilo junto com sua família.
Há cenas de ternura incrivelmente sincera por parte de personagens de cartum (o amor cotidiano entre marido e mulher é mostrado de forma honesta); há citações e sátira ao mundo do cinema e do gibi (a costureira Edna é responsável por parte delas); há uma trilha sonora formidável. Mas é a cena em que uma redoma erguida por um componente da família os protege da destruição que tem muito a nos dizer: a construção de uma família saudável depende dos valores autoatribuídos pela própria família. E isso é a mais incrível aventura das famílias.
Clique nos links para ouvir e comparar a música-tema de Os Incríveis com o tema de Henry Mancini para Peter Gunn. Atenção ao uso dos metais e da percussão.
Comentários
Muito bacana mesmo! Devo ressaltar que tem algumas coisas ótimas que a legenda consegue traduzir.
forte abraço
espero que vc tenha ouvido as trilhas que linkei no post.
abraço
Procurando Nemo é o meu preferido. É da Pixar também?
só agora fui ouvir os links que vc postou... obviamente Peter Gunn já e um velho conhecido. não acho que esteja citando tanto do Mancini e sim mais do Mission Impossible. por sinal, é de forma proposital!
forte abraço
a música para Peter Gunn, de henry mancini, é o pai de todas as trilhas de seriados de ação e espionagem.
a música-tema de 007, discutivelmente de john barry, e o argentino lalo schiffrin, autor das trilhas de mission impossible e bullitt, beberam na fonte.
e o Giacchino, em Os Incríveis, faz uma homenagem sensacional.