Carta de R. C. Cardoso à revista Veja sobre a matéria “Espiritismo de resultados” (4/8/10): “Apesar de a novela [Escrito nas Estrelas] apresentar fatos que divergem da doutrina kardecista, é muito bom que a televisão mostre programas que tratam do espiritismo com seriedade, e não como instrumento para deboche e críticas sem fundamento”.
Alguém lembra de uma novela em que o cristianismo não foi pintado com deboche? Em novelas, o padre bom é o liberalizante e o padre mau é o negociante; já o personagem evangélico é o estereótipo do fanático que vocifera a Bíblia na praça, que é ríspido com a filha enamorada, que ouve gospel em som alto e por aí vai.
Conflitos familiares, veleidades conjugais, banalização do ódio, tudo isso faz parte do cardápio noveleiro que, agora e na hora da queda de audiência, sempre apela para a violência física da troca de socos e pontapés entre rivais e casais. Mas as novelas da Rede Globo nunca foram anticristãs no passado tanto quanto são pró-espiritualistas hoje.
O espiritismo impera nas histórias globais desde os famosos “Caso: Verdade” nos anos 70. O "Fantástico" costumava encerrar o domingo do espectador com histórias do aquém-do-além. Na época, as novelas já estavam levando o evangelho kardecista ao respeitável público. De uma forma até ingênua, mas nunca com deboche, fazendo um curioso contraste com o bombardeio de filmes com temas satanistas que enxamearam a década de 70 (O Exorcista, A Profecia, Irmãs Diabólicas etc).
Era o início dos anos 90. Paulo Coelho começava a fazer sucesso com seus livros meloesotéricos e Hollywood domesticava o espiritualismo com Ghost. O respeitável e agora espiritualizado público estava pronto para fazer A Viagem e ver todos os congêneres que se sucederam desde então.
Ah, mas novela é só um passatempo, um lençol de fantasma. Não é o que pensa Geraldo Campetti, da Federação Espírita Brasileira, que diz: “A novela ajuda a semear nossa crença”.
A novela global é o país das maravilhas do espiritismo. Não adianta cortar a cabeça de ninguém. O ninguém vaga e volta para atormentar ou aconselhar os vivos. Se vivo estivesse, Alan Kardec poderia achar o formato de gosto duvidoso, mas aprovaria o conteúdo.
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