Pular para o conteúdo principal

Fábulas Menores de Moral Mínima - 3

BREVÍSSIMO RELATO DO HORRENDO LABOR DE UM BISPO-DEPUTADO E DE SUA IMOLAÇÃO PESSOAL EM FAVOR ILÍCITO OU NÃO DOS SEMELHANTES

"A vida de um parlamentar é muito ruim, um sacrifício. Chega de manhã e sai à noite. Se você vai a um casamento, tem que abraçar 100 pessoas que você não conhece. Se você está em casa com a família, tem que atender a um pedido político ou até mesmo ir a um enterro de eleitor. É um sacrifício pessoal".

Isto é parte do depoimento do Bispo Rodrigues à Justiça Federal do Rio de Janeiro. Ele é réu no processo do mensalão. No dicionário dos 40 acusados, réu é aquele político inocentemente envolvido em teorias conspiratórias da oposição; e, mensalão, bem, mensalão não existe, é só um esquema de financiamento de parlamentares governistas e aliados que dá nas cabeças dos juízes do STF.

E não está mais aqui quem perguntou o que uma frase do “Bispo” da Universal está fazendo na seção dedicada à fábulas menores de moral mínima.


SOBRE MENINOS E LOBOS

Numa era inexistente, quando os animais achavam que sabiam falar, a família Lobo foi sacudida por mais uma intempérie. Dessa vez, não eram as focas ávidas por uma reportagem que despertavam aquela casa. Era o próprio caçula o causador da agitação.
- Pai, grande Lobo. Dá-me a parte que me cabe. Já aprendi o suficiente por aqui, é hora de plantar meus próprios laranjas, digo, meus próprios laranjais.
- Filhinho, você ainda é só um lobinho. O mundo lá fora é cruel para quem não tem advogado.
- Não quero mais ser um lobinho. Isso é nome de escoteiro-mirim.
-Pior. É como se chama um quisto subcutâneo, gracejou o Lobo-do-mar, irmão mais velho e navegado.
- Viu só como falam de mim? Minha hora de ir já chegou. E quem sabe faz a hora, meu pai, não espera acontecer.
- Filho, deixe dessas citações da juventude. E você bem sabe o que andam dizendo da gente por aí, que fizemos uma lobotomia com a cigarra que cantava essa música. Mas se você vai embora mesmo, leve pelo menos esse terno de pele de cordeiro. Vai lhe ser muito útil.

O caçula Lobo mal passou um mês fora de casa e já estava sendo investigado por associação ao tráfico – havia sido flagrado na companhia de membros do PCV (Pequeno Chapéu Vermelho) -, e por formação de alcatéia com um parente distante, Lobisomem, uma espécie de lobo negro da família.

Como a paciência dos leitores é mais curta que essa história, lhes faço um resumo: o lobinho pródigo voltou à sombra do pai, que lhe deu seu próprio e digno posto naquela terra. Porém, como o tempo é um coveiro que nunca aprendeu a enterrar o passado, todo o reino ficou sabedor das maracutaias ocultas. Foi assim que El Rey, com seu apego às metáforas, cunhou uma máxima de moral mínima: “Filho de lobão, lobinho é”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

o mito da música que transforma a água

" Música bonita gera cristais de gelo bonitos e música feia gera cristais de gelo feios ". E que tal essa frase? " Palavras boas e positivas geram cristais de gelo bonitos e simétricos ". O autor dessa teoria é o fotógrafo japonês Masaru Emoto (falecido em 2014). Parece difícil alguém com o ensino médio completo acreditar nisso, mas não só existe gente grande acreditando como tem gente usando essas conclusões em palestras sobre música sacra! O experimento de Masaru Emoto consistiu em tocar várias músicas próximo a recipientes com água. Em seguida, a água foi congelada e, com um microscópio, Emoto analisou as moléculas de água. Os cristais de água que "ouviram" música clássica ficaram bonitos e simétricos, ao passo que os cristais de água que "ouviram" música pop eram feios. Não bastasse, Emoto também testou a água falando com ela durante um mês. Ele dizia palavras amorosas e positivas para um recipiente e palavras de ódio e negativas par

paula fernandes e os espíritos compositores

A cantora Paula Fernandes disse em um recente programa de TV que seu processo de composição é, segundo suas palavras, “altamente intuitivo, pra não dizer mediúnico”. Foi a senha para o desapontamento de alguns admiradores da cantora.  Embora suas músicas falem de um amor casto e monogâmico, muitos fãs evangélicos já estão providenciando o tradicional "vou jogar fora no lixo" dos CDs de Paula Fernandes. Parece que a apologia do amor fiel só é bem-vinda quando dita por um conselheiro cristão. Paula foi ao programa Show Business , de João Dória Jr., e se declarou espírita.  Falou ainda que não tem preconceito religioso, “mesmo porque Deus é um só”. Em seguida, ela disse que não compõe sozinha, que às vezes, nas letras de suas canções, ela lê “palavras que não sabe o significado”. O que a cantora quis dizer com "palavras que não sei o significado"? Fiz uma breve varredura nas suas letras e, verificando que o nível léxico dos versos não é de nenhu

Nabucodonosor e a música da Babilônia

Quando visitei o museu arqueológico Paulo Bork (Unasp - EC), vi um tijolo datado de 600 a.C. cuja inscrição em escrita cuneiforme diz: “Eu sou Nabucodonosor, rei de Babilônia, provedor dos templos de Ezágila e Égila e primogênito de Nebupolasar, rei de Babilônia”. Lembrei, então, que nas minhas aulas de história da música costumo mostrar a foto de uma lira de Ur (Ur era uma cidade da região da Mesopotâmia, onde se localizava Babilônia e onde atualmente se localiza o Iraque). Certamente, a lira integrava o corpo de instrumentos da música dos templos durante o reinado de Nabucodonosor. Fig 1: a lira de Ur No sítio arqueológico de Ur (a mesma Ur dos Caldeus citada em textos bíblicos) foram encontradas nove liras e duas harpas, entre as quais, a lira sumeriana, cuja caixa de ressonância é adornada com uma escultura em forma de cabeça bovina. As liras são citadas em um dos cultos oferecidos ao rei Nabucodonosor, conforme relato no livro bíblico de Daniel, capítulo 3. Aliás, n