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Everybody loves Zeca Pagodinho

A charge do Amarildo apresenta o que se pode chamar de "armas de destruição em massa". Não adianta as propagandas de cerveja se encerrarem com os dizeres "se dirigir, não beba" ou "se beber, não dirija". Isso é tão inócuo quanto colocar ao final de uma propaganda de carro a frase "não corra, não mate, não morra". Mesmo porque os anúncios de carros são irmãos univitelinos dos comerciais de cerveja. Ambos vinculam seu produto à equação do mundo-macho jovem: prazer de dirigir/prazer de bebericar + uma(s) mulher(es) no banco/à mesa = velocidade/alegria com ou sem moderação. Não vai demorar e vão mostrar um sujeito dirigindo que não sabe se olha pra frente, pra Juliana Paes do lado ou pra latinha de cerveja que o Zeca-Feira Pagodinho lhe oferece do banco de trás.

Nesse ano, o lobby das cervejas fez um escarcéu dizendo que queriam acabar com "a liberdade do consumidor" e com "a liberdade de expressão" pois as cervejarias não poderiam mais anunciar seus produtos. E não é que agora e na hora da sua morte as danadas invocam até a Santa Madre Liberdade de Expressão, ela mesma, que de defensora dos ideais iluministas passou agora para o lado ambev da Força?

Acontece que o projeto de lei pretendia restringir a veiculação de propagandas de bebida alcóolicas no rádio e na TV entre as 6h e as 21 h. Os anunciantes e as emissoras saíram então de braços dados vociferando contra a suposta censura e o cerceamento da escolha do consumidor, este sim, o grande responsável pela (des)ordem nas estradas e pelo progresso do faturamento das cervejarias. Enfim, o lobby funcionou, o projeto de lei foi engavetado e tudo parece que vai acabar em pizza com rodada de cerveja pra todo mundo, êêê!

Coincidência? O investimento dos fabricantes de cerveja em publicidade saltou de 180,4 milhões em 2000 para 961,7 milhões em 2007, segundo o Ibope. Dos 513 parlamentares, 87 têm concessões de rádio e televisão e/ou receberam doações de campanha da indústria de bebidas e de comunicação. 33 deputados eleitos receberam 2.130.120 milhões das fábricas de cerveja em sua campanha eleitoral.

Uma pesquisa apontou que das 16 regras estabelecidas pelo Conar, conselho de auto-regulamentação publicitária, 12 foram desrespeitadas pois "têm apelo imperativo ao consumo, despertam a atenção de crianças e adolescentes, mostram pessoas que aparentam ter menos de 25 anos, exploram o erotismo, não são veiculadas apenas em programas de TV destinados ao público adulto e mostram a cerveja relacionada ao sucesso profissional, social ou sexual".

A saída para alguns fabricantes e publicitários espertos foi relacionar o "brahmeiro" ao brasileiro trabalhador que não desiste nunca. Vide a letrinha do jingle. O brahmeiro é incansável ("acorda cedo, vai trabalhar, ralou para conquistar o que tem"), honra pai e mãe (tudo o que sabe deve aos pais), é honesto (tem nome limpo), é um homem de família (sente-se um rei em casa), celebra a vida e a amizade ("a vida não tem graça sem ter os amigos e o que celebrar"), que lindo, tão lindo e limpo que parece um comercial de banco.

O brahmeiro não é mais do jeitinho brasileiro (é do batente e da luta). Agora pertence à categoria dos guerreiros brasileiros e ninguém segura esse país.

Leia mais sobre a mídia, o lobby e os deputados

Comentários

Anônimo disse…
será que vai chegar o dia em que os comerciais de cerveja serão coisa do passado como os comerciais de cigarro?
Julison disse…
Já que não querem impedir os comerciais, pelo menos deveriam mostrar, após cada comercial de cerveja, um vídeo de 15 segundos com um acidente envolvendo alguém dirigindo alcolizado...
douglas reis disse…
Parabéns pela abordagem do assunto - Genial! Creio que há dois pesos e duas medidas: veja o rigor nas propagandas de cigarro e a liberalidade nos comerciais de cerveja. Sobre as baboseiras deste últimos, ver http://questaodeconfianca.blogspot.com/search/label/Publicidade

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