Acabo de ler que, segundo o Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha, o cérebro dos homens têm até 30% a mais de conexões entre neurônios. Calma. O Conselho ainda foi molhar o bico para depois completar dizendo que isso não significa necessariamente que os homens são mais inteligentes que as mulheres. Concordo. E aposto que esses 30% a mais não são conexões Tigre.
Os autores da pesquisa publicada na última edição da revista PNAS argumentam que isso quer dizer que os cérebros de homens e mulheres diferem quanto ao processamento de informações. É uma descoberta e tanto considerando-se que até ontem maldosamente se pensava que a diferença nesse processamento se devia à pigmentação capilar aloirada ou à submissão prolongada à teleprogramas infantis de apresentadoras com elevado índice de pigmentação louro-capilar.
A equipe científica detectou diferenças entre homens e mulheres em uma área do cérebro relacionada com os processos sociais e emocionais e a capacidade humana de atribuir intenções a outras pessoas. Essa área é o neocórtex cerebral. É nesta parte do cérebro que os homens apresentam até 30% a mais de conexões sinápticas (Sinapses são aquelas “janelas” que se fecham de par em par quando envelhecemos ou, melhor descrito, são as junções microscópicas que enviam sinais de um neurônio para outro).
Capacidade de atribuir intenções a outras pessoas: agora se sabe porque os homens sempre jogam a culpa uns nos outros ou habitualmente nas mulheres. Já dá pra ver aquele casal brigando no apartamento recém-financiado e mal-pago. Ela: “você está sempre pondo a culpa em mim”. Ele: “ah, meu bem, são esses malditos 30% a mais de conexões sinápticas”. Experimente dizer isso às 3 da manhã e você, macho alfa, vai precisar de outro neocórtex cerebral. A ciência às vezes complica a vida da gente, né, não?
* * * * *
No livro As Pianistas dos Anos 1920 e a Geração Jet-Lag (Ed. UNB), a autora Jaci Toffano revela que, de 1913 a 1929, 97% dos alunos do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo eram mulheres. Mas havia uma barreira que as impedia de construir uma carreira como pianista: “havia a domesticidade, a aproximação forte com o piano, mas quando chega o limite entre diletantismo e profissionalismo, havia uma barreira”. Daí a ausência de mais e melhores mulheres-pianistas no mundo masculinizado da interpretação pianística.
Alguém já me disse que uma explicação plausível para o número de homens famosos como chefs de restaurantes é: as mulheres crescem obrigadas a cozinhar e os homens crescem e depois vão se divertir cozinhando. O patriarcalismo também é notório no século XX, pois, entre conciliar as viagens de trabalho e os afazeres domésticos, muitas compositoras e instrumentistas tiveram suas carreiras interrompidas (ou nem mesmo iniciadas) por escolherem a segunda opção. Por que a ínfima quantidade de mulheres-pianistas geniais como Martha Argerich? Seriam apenas por causa de formas diferentes de processamento cerebral, fisiológico, emocional entre homens e mulheres? Ou será pela pequena colaboração masculina nos cuidados do lar, o que exigiria mais tempo materno da mulher-pianista?
Em seu livro, Jaci Toffano aborda as carreiras bem-sucedidas das pianistas brasileiras Antonieta Rudge (1885-1974), Magdalena Tagliaferro (1893-1991) e Guiomar Novaes (1896-1979). Por nossa conta, podemos citar também a pioneira Chiquinha Gonzaga, que rompeu barreiras ainda mais rígidas e preconceituosas ao escrever música popular no final do século XIX; Eudóxia de Barros, Maria Teresa Madeira, Esther Scliar; a regente Ligia Amadio; as compositoras Marisa Rezende e Jocy de Oliveira (esta, a mente mais criativa da música brasileira de concerto); e as jazz pianists Tânia Maria e Eliane Elias – ambas radicadas nos Estados Unidos.
Jaci Toffano escreve que as mulheres-pianistas podem equivaler-se aos homens, mas dificilmente estão no topo. Por isso, ela diz que quando vê uma mulher brilhando na música, das duas, uma: “ou ela está pagando um preço alto, ou encontrou um homem que colabora”.
Os autores da pesquisa publicada na última edição da revista PNAS argumentam que isso quer dizer que os cérebros de homens e mulheres diferem quanto ao processamento de informações. É uma descoberta e tanto considerando-se que até ontem maldosamente se pensava que a diferença nesse processamento se devia à pigmentação capilar aloirada ou à submissão prolongada à teleprogramas infantis de apresentadoras com elevado índice de pigmentação louro-capilar.
A equipe científica detectou diferenças entre homens e mulheres em uma área do cérebro relacionada com os processos sociais e emocionais e a capacidade humana de atribuir intenções a outras pessoas. Essa área é o neocórtex cerebral. É nesta parte do cérebro que os homens apresentam até 30% a mais de conexões sinápticas (Sinapses são aquelas “janelas” que se fecham de par em par quando envelhecemos ou, melhor descrito, são as junções microscópicas que enviam sinais de um neurônio para outro).
Capacidade de atribuir intenções a outras pessoas: agora se sabe porque os homens sempre jogam a culpa uns nos outros ou habitualmente nas mulheres. Já dá pra ver aquele casal brigando no apartamento recém-financiado e mal-pago. Ela: “você está sempre pondo a culpa em mim”. Ele: “ah, meu bem, são esses malditos 30% a mais de conexões sinápticas”. Experimente dizer isso às 3 da manhã e você, macho alfa, vai precisar de outro neocórtex cerebral. A ciência às vezes complica a vida da gente, né, não?
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No livro As Pianistas dos Anos 1920 e a Geração Jet-Lag (Ed. UNB), a autora Jaci Toffano revela que, de 1913 a 1929, 97% dos alunos do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo eram mulheres. Mas havia uma barreira que as impedia de construir uma carreira como pianista: “havia a domesticidade, a aproximação forte com o piano, mas quando chega o limite entre diletantismo e profissionalismo, havia uma barreira”. Daí a ausência de mais e melhores mulheres-pianistas no mundo masculinizado da interpretação pianística.
Alguém já me disse que uma explicação plausível para o número de homens famosos como chefs de restaurantes é: as mulheres crescem obrigadas a cozinhar e os homens crescem e depois vão se divertir cozinhando. O patriarcalismo também é notório no século XX, pois, entre conciliar as viagens de trabalho e os afazeres domésticos, muitas compositoras e instrumentistas tiveram suas carreiras interrompidas (ou nem mesmo iniciadas) por escolherem a segunda opção. Por que a ínfima quantidade de mulheres-pianistas geniais como Martha Argerich? Seriam apenas por causa de formas diferentes de processamento cerebral, fisiológico, emocional entre homens e mulheres? Ou será pela pequena colaboração masculina nos cuidados do lar, o que exigiria mais tempo materno da mulher-pianista?
Em seu livro, Jaci Toffano aborda as carreiras bem-sucedidas das pianistas brasileiras Antonieta Rudge (1885-1974), Magdalena Tagliaferro (1893-1991) e Guiomar Novaes (1896-1979). Por nossa conta, podemos citar também a pioneira Chiquinha Gonzaga, que rompeu barreiras ainda mais rígidas e preconceituosas ao escrever música popular no final do século XIX; Eudóxia de Barros, Maria Teresa Madeira, Esther Scliar; a regente Ligia Amadio; as compositoras Marisa Rezende e Jocy de Oliveira (esta, a mente mais criativa da música brasileira de concerto); e as jazz pianists Tânia Maria e Eliane Elias – ambas radicadas nos Estados Unidos.
Jaci Toffano escreve que as mulheres-pianistas podem equivaler-se aos homens, mas dificilmente estão no topo. Por isso, ela diz que quando vê uma mulher brilhando na música, das duas, uma: “ou ela está pagando um preço alto, ou encontrou um homem que colabora”.
Comentários
Nossas sociedades patriarcais nos têm privado da perspectiva musical feminina e pra nós, isso é sem dúvida uma perda. Minha filha é extremamente talentosa e quero fazê-la uma ótima pianista, a despeito dos atravancos culturais e sociais. Pior ainda se morássemos no Brasil...
Abraço
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