300 anos antes dos clubes ingleses de futebol nadarem em dinheiro, inflacionarem o mercado da bola com contratos milionários e disputarem a tapas e libras o passe dos craques, os teatros ingleses de ópera inflacionavam o mercado lírico e disputavam o passe das divas e maestros da música.
Foi para esse paraíso musical e financeiro que George Friedrich Haendel decidiu levar seus dotes. Músico excepcional, empresário nem tanto. Enfrentando os rivais italianos - Haendel era mais um concorrente; os rivais ingleses – Haendel era alemão; e os credores - sua casa de ópera fracassava, Haendel foi à falência por duas vezes. Pior, sofreu uma paralisia no lado direito do corpo e foi proibido de encenar suas óperas no palco.
Escreve, então, óperas de enredo bíblico para salas de concerto: são os oratórios, obras que lhe granjearam a fama e o fez passar “de indivíduo à instituição e, finalmente, a uma completa indústria”, define o músico e biógrafo Christopher Hogwood. O homem do “Aleluia de Haendel” faleceu num Sábado de Aleluia, fizeram-lhe uma estátua em Westminster e 3.000 pessoas presenciaram seu funeral em 1759.
Haendel, o músico devoto, era um antropofagista das próprias obras, usando sem pudor as mesmas melodias tanto para fins sacros quanto profanos. Porém, basta escutar suas composições cheias de pompa e circunstância encomendadas ao rei ou suas melodias plenas de pietismo religioso para notar que a bagagem luterana de Haendel não lhe permitia tomar uma dança saltitante e inseri-la nos temas de O Messias ou nos quatro Coronation Anthems (hinos da coroação).
Mas nem tudo foram rosas e resoluções consonantes na tônica. Os oratórios estavam entre a cruz dos templos e a caldeirinha dos teatros: sendo óperas com enredo bíblico, nem eram encenadas na igreja devido ao teor teatral demais, nem no teatro devido ao tema ser religioso demais. Histórias do Velho Testamento recebiam uma forma operística e se revestiam de grande emoção religiosa. Josué, Jefté, Saul, Sansão, foram obras recebidas ao mesmo tempo como dramas espirituais do povo hebreu e epopéias triunfais da nação inglesa.
No oratório Israel no Egito, o personagem principal é o povo e seu desejo de liberdade. Assim, há poucas árias (solos) e muito coro, o que confere à obra uma intensidade dramática advinda do canto coral coletivo – como as futuras óperas Fidelio, de Beethoven, e Boris Godunov, de Mussorgski, em que a massa coral representa a força e a vontade popular guiadas por um grande líder.
O Messias é o ponto mais alto da cordilheira que foi a carreira de Haendel. O lirismo, a inspiração cristã, as árias sublimes (como He Shall Feed His Flock, The Trumpet Shall Sound ou I Know my Redeemer Liveth) e os coros grandiosos (For unto us a Child is Born e, claro, o Hallelujah) entraram direto para o hit parade clássico e estão lá há 250 anos consecutivos.
As três partes do oratório baseiam-se em versos transcritos fielmente para o libreto dotado de firme convicção aos princípios do cristianismo – começa com as profecias sobre o Messias vindouro e o nascimento de Jesus; a segunda parte trata da paixão de Cristo; e por fim, o tema celebra a redenção. A música é ora vibrante e magnificente, ora é plácida e meditativa, mas sempre na medida das obras extraordinárias.
Se eu fosse comprar um cd pela capa, esse ao lado já estaria descartado. Mas com os nomes de Al Jarreau, Stevie Wonder e Quincy Jones, essa versão black pop-christian de O Messias parece ter seus encantos. Será mistura demais? Que o diga quem já conhece.
Há três anos, assisti em dvd (capa) a versão com a orquestra e coro da Academy of St.Martin-in-the-Fields regida por Neville Marriner na comemoração aos 250 anos da obra. Emocionante e gloriosa.
Há uns 10 anos, vi em VHS a versão “música cristã contemporânea”. Tem grandes momentos, como Larnelle Harris cantando “Ev’ry Valley Shall Be Exalted”, Steve Green e “I Know my Redeemer Liveth”, Sandi Patti e Steven Curtis Chapman no dueto de “He Shall Feed His Flock”. Estão ainda Carman (não ficou tão bem), Michael English, Twila Paris, 4Him, Brooklyn Tabernacle Choir e outros mais.
Quanto a mim, solos de guitarra não vão me conquistar, mas, calma, a obra não foi “profanada”. Há um respeito ao tema e à música handeliana, remodelada segundo os estilos musicais dos cantores convidados e refeita com tintas da cultura musical pop. Mas se todo pop gospel tivesse essa qualidade de música, letra e interpretação...
Foi para esse paraíso musical e financeiro que George Friedrich Haendel decidiu levar seus dotes. Músico excepcional, empresário nem tanto. Enfrentando os rivais italianos - Haendel era mais um concorrente; os rivais ingleses – Haendel era alemão; e os credores - sua casa de ópera fracassava, Haendel foi à falência por duas vezes. Pior, sofreu uma paralisia no lado direito do corpo e foi proibido de encenar suas óperas no palco.
Escreve, então, óperas de enredo bíblico para salas de concerto: são os oratórios, obras que lhe granjearam a fama e o fez passar “de indivíduo à instituição e, finalmente, a uma completa indústria”, define o músico e biógrafo Christopher Hogwood. O homem do “Aleluia de Haendel” faleceu num Sábado de Aleluia, fizeram-lhe uma estátua em Westminster e 3.000 pessoas presenciaram seu funeral em 1759.
Haendel, o músico devoto, era um antropofagista das próprias obras, usando sem pudor as mesmas melodias tanto para fins sacros quanto profanos. Porém, basta escutar suas composições cheias de pompa e circunstância encomendadas ao rei ou suas melodias plenas de pietismo religioso para notar que a bagagem luterana de Haendel não lhe permitia tomar uma dança saltitante e inseri-la nos temas de O Messias ou nos quatro Coronation Anthems (hinos da coroação).
Mas nem tudo foram rosas e resoluções consonantes na tônica. Os oratórios estavam entre a cruz dos templos e a caldeirinha dos teatros: sendo óperas com enredo bíblico, nem eram encenadas na igreja devido ao teor teatral demais, nem no teatro devido ao tema ser religioso demais. Histórias do Velho Testamento recebiam uma forma operística e se revestiam de grande emoção religiosa. Josué, Jefté, Saul, Sansão, foram obras recebidas ao mesmo tempo como dramas espirituais do povo hebreu e epopéias triunfais da nação inglesa.
No oratório Israel no Egito, o personagem principal é o povo e seu desejo de liberdade. Assim, há poucas árias (solos) e muito coro, o que confere à obra uma intensidade dramática advinda do canto coral coletivo – como as futuras óperas Fidelio, de Beethoven, e Boris Godunov, de Mussorgski, em que a massa coral representa a força e a vontade popular guiadas por um grande líder.
O Messias é o ponto mais alto da cordilheira que foi a carreira de Haendel. O lirismo, a inspiração cristã, as árias sublimes (como He Shall Feed His Flock, The Trumpet Shall Sound ou I Know my Redeemer Liveth) e os coros grandiosos (For unto us a Child is Born e, claro, o Hallelujah) entraram direto para o hit parade clássico e estão lá há 250 anos consecutivos.
As três partes do oratório baseiam-se em versos transcritos fielmente para o libreto dotado de firme convicção aos princípios do cristianismo – começa com as profecias sobre o Messias vindouro e o nascimento de Jesus; a segunda parte trata da paixão de Cristo; e por fim, o tema celebra a redenção. A música é ora vibrante e magnificente, ora é plácida e meditativa, mas sempre na medida das obras extraordinárias.
Se eu fosse comprar um cd pela capa, esse ao lado já estaria descartado. Mas com os nomes de Al Jarreau, Stevie Wonder e Quincy Jones, essa versão black pop-christian de O Messias parece ter seus encantos. Será mistura demais? Que o diga quem já conhece.
Há três anos, assisti em dvd (capa) a versão com a orquestra e coro da Academy of St.Martin-in-the-Fields regida por Neville Marriner na comemoração aos 250 anos da obra. Emocionante e gloriosa.
Há uns 10 anos, vi em VHS a versão “música cristã contemporânea”. Tem grandes momentos, como Larnelle Harris cantando “Ev’ry Valley Shall Be Exalted”, Steve Green e “I Know my Redeemer Liveth”, Sandi Patti e Steven Curtis Chapman no dueto de “He Shall Feed His Flock”. Estão ainda Carman (não ficou tão bem), Michael English, Twila Paris, 4Him, Brooklyn Tabernacle Choir e outros mais.
Quanto a mim, solos de guitarra não vão me conquistar, mas, calma, a obra não foi “profanada”. Há um respeito ao tema e à música handeliana, remodelada segundo os estilos musicais dos cantores convidados e refeita com tintas da cultura musical pop. Mas se todo pop gospel tivesse essa qualidade de música, letra e interpretação...
Comentários
forte abraço