A música para cerimônias oficiais de celebração costuma ser aquela que confere muita pompa para determinada circunstância. Geralmente bombástica, com o retumbar de tímpanos e uma fanfarra de metais que alardeiam uma nova era, uma sinfonia grandiloquente para a majestade que toma posse.
Mas o que se ouviu na posse de Barack Obama esteve bem distante do tom festivo, cumprindo-se já a intenção do novo presidente. Foi assim o poema recitado por Elizabeth Alexander, Praise Song for the Day, sem versos laudatórios da personalidade de um homem, mas de estilo terno e reflexivo. Talvez até demais para o momento.
Poderia ser diferente no concerto musical para o dia em que Obama começaria a selar um concerto político entre as nações, como muitos gostam de acreditar. O responsável pela música era John Williams, reconhecido compositor de trilhas sonoras. Dele se podia esperar o imprevisível. Da música triunfal, como em Guerra nas Estrelas, ao lúdico à la Henry Mancici, como em Prenda-me se for Capaz; das cordas emotivas de E.T. ao vocalise lacrimoso de Império do Sol.
John Williams compôs uma breve peça que emanava simbolismo tanto das notas musicais quanto dos músicos selecionados para tocar. Intitulada Air and Simple Gifts e escrita para violino, violoncelo, piano e clarinete, a peça não tem um final apoteótico e retumbante – as homenagens musicais ao estilo de Reais Fogos de Artifício, de Haendel, nem passaram perto.
Mas algumas mensagens me pareceram bem claras: a ausência de pompa na música para o concerto lembra que, primeiro, Obama precisa traçar o conserto da nação que o elegeu - e a empolgação do casamento é logo anuviada quando as primeiras contas começam a chegar; os músicos eram o violinista israelense Itzhak Perlman, o celista sino-americano Yo-Yo Ma, a pianista venezuelana Gabriela Montero e o clarinetista afro-americano Anthony McGill. A própria diversidade em carne, osso e melodia (Perlman e Yo-Yo Ma já haviam colaborado com John Williams na trilha de A Lista de Schindler).
O início da peça é original de John Williams. Mas, a seguir, há uma citação de Simple Gifts, uma famosa melodia shaker também utilizada pelo compositor Aaron Copland na obra Appalachian Spring. Na reciclagem da tradicional melodia e na citação a Copland, um compositor identificado com os valores culturais e morais americanos, evoca-se a visão idílica de um país construído com liberdade, tolerância e trabalho.
Anne Midgette lembra que Abraham Lincoln, em quem Obama procura modelar-se, era fã de música clássica e incluiu a montagem da ópera Martha, de Flotow, em sua segunda posse como presidente.
Obama já demonstrou apreciar diversos estilos de música (a música clássica está entre suas preferências ecléticas), o que dá uma pequena dimensão de que ele é alguém que prefere dialogar com várias culturas e fazer a ponte de entendimento entre elas. De sua intenção, ainda que em discursos iniciais, de promover a tolerância e o respeito entre os diversos povos, não há porque discordar. Ao contrário, tratam-se de valores fundamentais que todos devem defender, inspirados ou não em princípios religiosos.
Só discordarei de Obama se a promoção de almejada unidade sobrepujar-se à liberdade de diversidade. Ponto.
Para quem procura razões apocalípticas para rejeitar Barack Obama, dou uma dica. Sabe que outra peça foi escrita especialmente para a formação instrumental de violino, cello, piano e clarinete? Isso mesmo, o Quarteto para o Fim dos Tempos, de Olivier Messiaen.
Alguém dirá, calma, é coincidência. Outros dirão, quem lê (ou quem ouve), entenda.
Para entender melhor, leia meu artigo “Quarteto para o Fim dos Tempos” , escrito bem antes da eleição de Obama.
Mas o que se ouviu na posse de Barack Obama esteve bem distante do tom festivo, cumprindo-se já a intenção do novo presidente. Foi assim o poema recitado por Elizabeth Alexander, Praise Song for the Day, sem versos laudatórios da personalidade de um homem, mas de estilo terno e reflexivo. Talvez até demais para o momento.
Poderia ser diferente no concerto musical para o dia em que Obama começaria a selar um concerto político entre as nações, como muitos gostam de acreditar. O responsável pela música era John Williams, reconhecido compositor de trilhas sonoras. Dele se podia esperar o imprevisível. Da música triunfal, como em Guerra nas Estrelas, ao lúdico à la Henry Mancici, como em Prenda-me se for Capaz; das cordas emotivas de E.T. ao vocalise lacrimoso de Império do Sol.
John Williams compôs uma breve peça que emanava simbolismo tanto das notas musicais quanto dos músicos selecionados para tocar. Intitulada Air and Simple Gifts e escrita para violino, violoncelo, piano e clarinete, a peça não tem um final apoteótico e retumbante – as homenagens musicais ao estilo de Reais Fogos de Artifício, de Haendel, nem passaram perto.
Mas algumas mensagens me pareceram bem claras: a ausência de pompa na música para o concerto lembra que, primeiro, Obama precisa traçar o conserto da nação que o elegeu - e a empolgação do casamento é logo anuviada quando as primeiras contas começam a chegar; os músicos eram o violinista israelense Itzhak Perlman, o celista sino-americano Yo-Yo Ma, a pianista venezuelana Gabriela Montero e o clarinetista afro-americano Anthony McGill. A própria diversidade em carne, osso e melodia (Perlman e Yo-Yo Ma já haviam colaborado com John Williams na trilha de A Lista de Schindler).
O início da peça é original de John Williams. Mas, a seguir, há uma citação de Simple Gifts, uma famosa melodia shaker também utilizada pelo compositor Aaron Copland na obra Appalachian Spring. Na reciclagem da tradicional melodia e na citação a Copland, um compositor identificado com os valores culturais e morais americanos, evoca-se a visão idílica de um país construído com liberdade, tolerância e trabalho.
Anne Midgette lembra que Abraham Lincoln, em quem Obama procura modelar-se, era fã de música clássica e incluiu a montagem da ópera Martha, de Flotow, em sua segunda posse como presidente.
Obama já demonstrou apreciar diversos estilos de música (a música clássica está entre suas preferências ecléticas), o que dá uma pequena dimensão de que ele é alguém que prefere dialogar com várias culturas e fazer a ponte de entendimento entre elas. De sua intenção, ainda que em discursos iniciais, de promover a tolerância e o respeito entre os diversos povos, não há porque discordar. Ao contrário, tratam-se de valores fundamentais que todos devem defender, inspirados ou não em princípios religiosos.
Só discordarei de Obama se a promoção de almejada unidade sobrepujar-se à liberdade de diversidade. Ponto.
Para quem procura razões apocalípticas para rejeitar Barack Obama, dou uma dica. Sabe que outra peça foi escrita especialmente para a formação instrumental de violino, cello, piano e clarinete? Isso mesmo, o Quarteto para o Fim dos Tempos, de Olivier Messiaen.
Alguém dirá, calma, é coincidência. Outros dirão, quem lê (ou quem ouve), entenda.
Para entender melhor, leia meu artigo “Quarteto para o Fim dos Tempos” , escrito bem antes da eleição de Obama.
Comentários
Quem sabe este seria o tom da liderança que ele queria, na música, mostrar. Algo como limpo, transparente, simples. Não quer demonstrar pompa, não quer comemorar antes da hora. Talvez acredite na virtude "Tempo de poupar, tempo de esbanjar".
seu discurso de posse não teve uma frase pra entrar pra história, uma frase do tipo "não pergunte o que a américa pode fazer por você..." ou "nada temos a temer senão o próprio medo".
ele domina a arte da retórica, mas parece saber que a hora é de arregaçar as mangas e trabalhar.