Sobre o texto “ateístas, graças a Deus”, um leitor atento comentou que me preocupei mais em rascunhar as ações negativas ligadas à expressão “aproveitar a vida” (uma frase que constava naquele cartaz que anda de ônibus em Londres). Parece que descambei para a crítica de atividades mundanas que os sóbrios humanistas também rejeitaram. Percebendo, então, que a bebedeira, a micareta e a Britney Spears são também pedra de escândalo para agnósticos e ateus, vou rabiscar o que seriam algumas das ações positivas desse mundo velho com porteira e câmera de vigilância.
Vou tratar apenas do mundo da arte e da literatura. Mas antes é preciso saber de que cristão vou falar. Sim, porque há quem se diga cristão não-praticante (infelizmente, o censo aponta que sua maioria é composta de católicos. E veja que ninguém se diz pentecostal não-praticante ou espírita não-praticante). O católico não-praticante é algo como o torcedor de um time de futebol do interior que só vai ao estádio quando vem um time da capital.
Vou tratar apenas do mundo da arte e da literatura. Mas antes é preciso saber de que cristão vou falar. Sim, porque há quem se diga cristão não-praticante (infelizmente, o censo aponta que sua maioria é composta de católicos. E veja que ninguém se diz pentecostal não-praticante ou espírita não-praticante). O católico não-praticante é algo como o torcedor de um time de futebol do interior que só vai ao estádio quando vem um time da capital.
De outro lado, há o cristão que pensa praticar o cristianismo, mas na verdade ele pratica o "igrejismo". O adepto do igrejismo é como aquela criatura que assiste a dez telenovelas diárias, ri, chora e dá ordens aos personagens e nunca se interessa por outro tipo de emoção. O adepto do igrejismo não vive como quem espera novos céus e nova terra; ele vive como se não houvesse nem a velha terra onde pisa.
Há o cristão da urgência. Ele tem boas-novas a anunciar e não tem tempo a perder com jogos de futebol, filmes e livros não-denominacionais. A música não tem outra função exceto a de servir de atração evangelística ou acessório para os intervalos em que ele não está falando. Os únicos livros não-denominacionais que ele aprecia são aqueles de desconhecidos autores que falam de uma teoria conspiratória empresarial para dominar o mundo.
Há o cristão da displicência. Ele tem boas-novas a anunciar mas sempre tem um programa imperdível para ver ou fazer no mesmo horário. Esse tipo se divide em fãs de futebol (criticam quem assiste novela enquanto se desesperam diante da TV),
cinemaníacos (a diferença entre o cinéfilo e o cinemaníaco é que o primeiro já distingue temperos e cardápios enquanto o segundo no máximo saliva diante de um prato gorduroso),
e estetas ecléticos (esse esteta dá um boi para entrar numa discussão sobre estética e uma boiada para não falar de doutrinas religiosas).
O problema desse meu grosseiro rascunho é que mal cobre uma dúzia de pessoas, que dirá milhões. Assim, prefiro dizer que somos cristãos tanto da urgência quanto da negligência em várias oportunidades. Não sei se algum leitor se sentirá a vontade para analisar-se como apenas um desses tipos. Se for, congratulações pelo nível de autocrítica.
O cristão moderno tornou-se um bom samaritano que vive a decidir se ajuda os semelhantes ou vai à exposição. Ele ainda não aprendeu que há tempo para tudo debaixo do sol. Inclusive para ser uma pessoa melhor. Na tentativa de adaptar-se à igreja, vira um ermitão. Querendo relacionar-se com a modernidade, ele negocia princípios.
Há o cristão da urgência. Ele tem boas-novas a anunciar e não tem tempo a perder com jogos de futebol, filmes e livros não-denominacionais. A música não tem outra função exceto a de servir de atração evangelística ou acessório para os intervalos em que ele não está falando. Os únicos livros não-denominacionais que ele aprecia são aqueles de desconhecidos autores que falam de uma teoria conspiratória empresarial para dominar o mundo.
Há o cristão da displicência. Ele tem boas-novas a anunciar mas sempre tem um programa imperdível para ver ou fazer no mesmo horário. Esse tipo se divide em fãs de futebol (criticam quem assiste novela enquanto se desesperam diante da TV),
cinemaníacos (a diferença entre o cinéfilo e o cinemaníaco é que o primeiro já distingue temperos e cardápios enquanto o segundo no máximo saliva diante de um prato gorduroso),
e estetas ecléticos (esse esteta dá um boi para entrar numa discussão sobre estética e uma boiada para não falar de doutrinas religiosas).
O problema desse meu grosseiro rascunho é que mal cobre uma dúzia de pessoas, que dirá milhões. Assim, prefiro dizer que somos cristãos tanto da urgência quanto da negligência em várias oportunidades. Não sei se algum leitor se sentirá a vontade para analisar-se como apenas um desses tipos. Se for, congratulações pelo nível de autocrítica.
O cristão moderno tornou-se um bom samaritano que vive a decidir se ajuda os semelhantes ou vai à exposição. Ele ainda não aprendeu que há tempo para tudo debaixo do sol. Inclusive para ser uma pessoa melhor. Na tentativa de adaptar-se à igreja, vira um ermitão. Querendo relacionar-se com a modernidade, ele negocia princípios.
Quero dizer que o cristianismo não é a religião do equilíbrio. Não é o Tao. Ao contrário, o cristianismo é a religião da tensão. Não a tensão da culpa, do remorso sem fim e da ira. Mas a tensão que tem que conviver com virtudes e defeitos, mas não busca conciliar vícios e benefícios. Tal cristão pode ler Dostoievski e o livro de Daniel, Melville e Chesterton. Um cristão assim pode se maravilhar ouvindo uma sonata de Beethoven e se emocionar ao ouvir o Gaither Vocal Band cantando "It is Finished" (são só exemplos).
Alguns dos cristãos, diligentes trabalhadores, não puderam ou não quiseram desenvolver o pensamento crítico em relação a filmes e músicas. Como escreve Frank Gaebelein: “Eles ...são devotos da visão televisiva de shows, cujos gostos de leitura são dominados por uma piedade sentimental, e que não podem distinguir um tipo de arte religiosa da verdadeira arte. Para eles, padrões estéticos superiores são considerados apenas teoria e espiritualmente suspeitos” (The Christian, the Arts and the Truth).
Alguns dos cristãos, diligentes trabalhadores, não puderam ou não quiseram desenvolver o pensamento crítico em relação a filmes e músicas. Como escreve Frank Gaebelein: “Eles ...são devotos da visão televisiva de shows, cujos gostos de leitura são dominados por uma piedade sentimental, e que não podem distinguir um tipo de arte religiosa da verdadeira arte. Para eles, padrões estéticos superiores são considerados apenas teoria e espiritualmente suspeitos” (The Christian, the Arts and the Truth).
Há pessoas que, por falta de acesso a uma educação da arte e da literatura, rejeitam a totalidade das expressões artísticas humanas. Sobre estas despejam rancor e preconceito. Sem tempo e oportunidade para distinguir o joio do trigo, põem fogo em ambos.
Acima, O Bom Samaritano, de Van Gogh.
Comentários
Por mais doentes e cheio de falhas, nem sempre assumimos, mas queremos a cura que só vem do Céu.
Rabisque mais assim...
Muito legal!
Boa semana pra você.
é verdade que para algumas pessoas não falta conhecimento (artístico), mas discernimento e reflexão sobre o aprendizado.