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brasileiro é tão bonzinho...

Nos tempos da TV à lenha havia um programa humorístico em que uma personagem gringa suspirava e repetia um bordão aos abobalhados admiradores: “Brasileiro é tão bonzinho...”

O piloto Fernando Alonso e o pessoal da Ferrari devem ter pensado algo assim na hora em que Felipe Massa “deixou-se” ultrapassar pelo companheiro de equipe. Aliás, a Ferrari já se valeu do vergonhoso expediente de “pedir” que um piloto que esteja à frente na pista mas atrás nos pontos permita que o colega de equipe o ultrapasse. Foi assim com Michael Schumacher e Rubens Barrichello, lembra? Brasileiro é tão bonzinho...

Jean Charles foi confundido com um terrorista e foi morto a tiros pela polícia londrina numa estação de metrô. Investigações iniciadas, indenizações concedidas, e mais nada. Fosse um súdito da coroa inglesa, fosse um cidadão norte-americano, fosse um turista do G-7 e o negócio não tinha ficado na base do incidente diplomático. Mas apesar do nome francês, Jean Charles era brasileiro, e brasileiro é tão bonzinho!

Apesar de também sermos a terra de Guimarães Rosa, Joaquim Nabuco e Tom Jobim, somos famosos mesmo é pelo futebol e pelo carnaval. Ou seja, tudo é um caso de pelada.

Noves fora as maldades contra turistas estrangeiros, somos bem dóceis com os gringos. Mas eles não nos levam a sério a não ser num estádio ou numa roda de samba. Ou seja, quando não se exige a menor seriedade. Hoje o cenário apresenta mudanças, mas nossas relações comerciais já foram marcadas por informalidade e corrupção com muito mais cara-de-pau. Numa dessas, o presidente francês Charles de Gaulle teria dito que “O Brasil não é um país sério”.

Norte-americanos pelo seu poderio e europeus pela sua civilização nos consideram uma República das Bananas. Argentinos também costumam nos menosprezar, mas é porque muitos deles ainda não perceberam que não têm nem o cetro americano nem a cultura europeia.

A última humilhação pública veio do astro Sylvester Stallone. Sabíamos que o homem era o Cobra. Mas língua de Cobra? Ele pediu desculpas pela ofensa por ter comparado a brava gente brasileira aos macacos. Mas olha que nem os darwinistas gostaram. Também o que esperar de um ator cuja frase lapidar ainda é “Adrian! Adrian!”, dita por um Rocky choroso no distante 1976.

E aí voltamos ao tempo da TV à lenha. E veja que tem gente cujos pensamentos e comportamentos ainda estão no tempo da pedra lascada.


Comentários

marcio goncalves disse…
amigo,
entendi a linha de raciocínio do seu texto, e não sei ao certo se concordo 100% com ele.
mas sei que discordo do uso de felipe massa neste contexto.
eis uma opinião com a qual concordo sobre o ocorrido no domingo (por sinal, eu estive lá, e a vitória de alonso foi incontestável, por mais chato que isso ou ele seja):
"Para muitos Felipe Massa transformou-se no segundo piloto da Ferrari no Grande Prêmio da Alemanha. Porém, que fique claro que somente em Hockenheim ficou claro. Essa posição caiu para ele no momento em que por três provas consecutivas ele zerou por má sorte e má performance em treinos de classificação.
Fernando Alonso conquistou na pista, seja com atitudes leais ou não, um domínio sobre o brasileiro após 10 etapas. Foi mais rápido na maioria dos treinos de classificação, mostrou força em ritmo de corrida e driblou a dificuldade em aquecer pneus com seu estilo. Enfim, foi mais eficiente. É simples assim.
Em Hockenheim, a Ferrari desembarcava com um deficit grande para as rivais e tudo mais. Porém, o carro vermelho, como disse Lewis Hamilton no sábado (ouçam que pusemos o áudio no Fórmula JP), vinha em crescimento e já há algumas corridas era melhor. A Ferrari se via com alguma chance de crescer no campeonato de Construtores e em Pilotos tendo apenas um para apostar. Isso não era difícil para ninguém visualizar.
Havia ainda um efeito complicador. Se seria a Massa complicado reverter o cenário pela simples questão matemática, imaginem se pensarmos que ele ainda teria os problemas de pneus quando fossem utilizados os macios e os duros, ou ainda quando fizesse frio. Ou seja, a Ferrari claramente não poderia contar com ele. E aqui cabe uma reflexão.
Repito o que escrevi há pouco mais de um mês. Não há qualquer cláusula de segundo piloto no contrato de Massa para 2011 e 12. O que é um contrato de segundo piloto? Quando na primeira prova do Mundial, no momento em que todos estão com zero ponto, já há determinado no time quem deve ter a vantagem, o melhor equipamento, a melhor estratégia. Era assim na Ferrari de Jean Todt. E isso, ninguém pode acusar a Ferrari de ter feito ao brasileiro.
Massa ficou na frente de Alonso na Austrália quando visivelmente era mais lento, fechou a porta inúmeras vezes e o espanhol quase perdeu a posição para Hamilton. Webber, que acertou o inglês, salvou os ferraristas. Na Malásia, novamente Massa ficou na frente de Alonso, que depois abandonou, e com isso assumiu a ponta do Mundial. Onde está o segundo piloto? Por que desde lá a Ferrari não ordenava mudanças?...
marcio goncalves disse…
...Porém, corrida após corrida, Alonso se impôs e naturalmente ganhou o que podemos chamar de condição número 1 de piloto. E ganhou isso na pista. Claro que há interesses comerciais e respeito quem ache que isso definiu tudo. Mas saibam, a Ferrari não traiu Massa em Hockenheim por ele ser brasileiro. Simplesmente ela optou por quem rendeu mais em 2010.
Para mim, uma coisa influenciou na situação para que ela chegasse onde chegou. Massa tem uma gratidão pela Ferrari que Alonso não tem. O espanhol está dando de ombros pelo time, ainda que adote discurso da equipe e tal. Tanto que espremeu Massa nos boxes na China e bateu no brasileiro duas vezes em Silverstone.
Não podemos avaliar o que houve internamente. Nos dois casos, Massa lamentava-se pouco em entrevistas. Sinceramente, isso não me incomodou. Se cara feia em entrevistas ganhasse jogo, seríamos hexa no futebol e Dunga um gênio. Ainda assim, receio que nada internamente tenha sido trabalhado. E Massa pode ter se enfraquecido em todos os aspectos.
O dano a imagem de Massa são definitivos? Acho que na vida, nada é definitivo. Hoje Rubens Barrichello, ainda que marcado pela sua passagem em Maranello, tem imagem bem mais positiva que antes.
Mas a Massa não resta escolha. É rezar para 2010 acabe logo, até porque, novas situações constrangedoras irão aparecer. Quando ele poderá ganhar este ano uma corrida? Sempre que Alonso não estiver imediatamente em suas costas.
Que em 2011 as coisas sejam diferentes, ainda que seja difícil, para não dizer impossível, que o torcedor acredite.
Mas para que a próxima temporada seja escrita de forma diferente, além da performance na pista que faltou em 2010, é necessária mais atitude. Está claro que o papo de equipe só vale para ele, seu companheiro fará de tudo para jantá-lo vivo, como fez. Portanto, a gratidão com a Ferrari é grande e nobre. Mas que ele perceba que quando a água “bate na bunda”, ninguém é amigo de ninguém neste ambiente.
Certo ou errado, esportivo ou não, para salvar seus pescoços Stefano Domenicali e os ferraristas mandaram Massa ao espaço e ele acabou virando chacota nacional. Agora, ao brasileiro cabe levantar os cacos e tentar pegar o que sobrou deu sua honra. Não será nem um pouco fácil, para não discutir se é possível. Ele está sozinho agora.
E que seja assim no futuro. Porque esse papo de equipe, serve apenas no discurso furado de alguns, como Alonso. Na prática e na pista é o que resolve. E o espanhol sabe bem disso, tanto que fez o que tinha de fazer na pista e fora dela para destruir Massa."
joêzer disse…
Você sabe que o texto é uma peça de humor e não uma análise esportiva ou político-diplomática.
Eu admiro a paciência dos que assistem as dezenas de voltas da F-1. Aos meus olhos cansados, a F-1 me parece um monótono e arrastado 0 x 0. E quando parece que vai acontecer um lance empolgante, tipo uma possível disputa pelo 1º lugar, a Ferrari solicita que um piloto deixe o outro passar, por obséquio.
Não à toa, a web brinca chamando Felipe Massa de "o funcionário do mês".
Muita gente considera Alonso o melhor piloto pós-Schumacher. Por isso mesmo não era necessário a Ferrari agir com tamanha falta de esportividade. Aliás, sempre falo aqui pro nosso amigo Rodrigo que, de todos os esportes, a F-1 é a que menos se parece com esporte. Junto com o futebol, tem se tornado um balcão de negócios.
Quem vê a corrida do ponto de vista puramente técnico, quase jornalístico, a Ferrari agiu coerentemente até. Do ponto de vista do esporte, da nobreza de espírito e, principalmente, do ponto de vista do torcedor que dá audiência às corridas, o acontecido foi um vexame. Porque nenhum torcedor gosta de ver partidas com resultado combinado ou arranjado, por mais incontestável que possa ser a vitória de um competidor.

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