Pular para o conteúdo principal

a música do bom samaritano

Assistir uma senhora chamada Rute falando sobre seu serviço de visitação nos presídios impressiona a gente. Ela e uma anciã cujo cristianismo não fica na prédica, mas avança para a prática. Sua história me lembrou de versos bíblicos que ouvi na infância: “estive preso e Me visitaste...”

Conhecida pelos presidiários como "Irmã Rute", ela se dedica há muitos anos a esse serviço absolutamente voluntário. Foi assim que conheceu o casal Milton e Nair. Ele, fichado como um dos 10 criminosos mais perigosos do Paraná. Ela, sua companheira. Por razões que só consigo caracterizar como um milagre de transformação pessoal, o casal se tornou cristão.

Quem de nós apostaria na conversão do casal? Rápidos em rotular, diríamos que aquele homem era a escória da sociedade, um dejeto social merecedor de coisas piores que a prisão. Mas Milton da Silva cumpriu sua pena e saiu para uma vida completamente diferente.

Eu estava ali assistindo aquela senhora falar por uma coincidência. Eu estava ali para tocar para o Curitiba Coral. De repente, ela chama Nair à frente. E eu surpreso fico sabendo que Nair agora é diretora da ADRA e do ministério da mulher de sua igreja local. Fico boquiaberto quando Rute chama Milton da Silva. Seu rosto na página policial de um jornal (mostrado antes numa tela) contrasta com sua expressão de contentamento e serenidade. Milton, de camisa e fala humildes, hoje constrói igrejas.

A canção do vídeo abaixo talvez não seja seu tipo preferido de música (não é o meu). Mas sua letra retrata sem rodeios a vida de alguém que estava afundando no pântano social e, através da visita de alguém como Rute na prisão, encontrou uma nova maneira de enxergar os outros, como se uma nova luz abrisse seus olhos para as maravilhas do amor e do perdão.

Há tragédias sociais e espirituais diárias, mas que muito cristão finge não ver porque lacrou-se numa igreja lustrada e perfumada. 

Não estou prognosticando um estilo de música para as igrejas. Estou mostrando que aqueles que estão na periferia do "bom-gosto" usam o idioma musical que compreendem para expressar seu novo modo de vida e como nosso elitismo religioso e cultural não passa de uma máscara sacerdotal que se afasta dos caídos e feridos enquanto os samaritanos em sua simplicidade vestem o nu, alimentam o faminto e confortam os presos.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

o mito da música que transforma a água

" Música bonita gera cristais de gelo bonitos e música feia gera cristais de gelo feios ". E que tal essa frase? " Palavras boas e positivas geram cristais de gelo bonitos e simétricos ". O autor dessa teoria é o fotógrafo japonês Masaru Emoto (falecido em 2014). Parece difícil alguém com o ensino médio completo acreditar nisso, mas não só existe gente grande acreditando como tem gente usando essas conclusões em palestras sobre música sacra! O experimento de Masaru Emoto consistiu em tocar várias músicas próximo a recipientes com água. Em seguida, a água foi congelada e, com um microscópio, Emoto analisou as moléculas de água. Os cristais de água que "ouviram" música clássica ficaram bonitos e simétricos, ao passo que os cristais de água que "ouviram" música pop eram feios. Não bastasse, Emoto também testou a água falando com ela durante um mês. Ele dizia palavras amorosas e positivas para um recipiente e palavras de ódio e negativas par

paula fernandes e os espíritos compositores

A cantora Paula Fernandes disse em um recente programa de TV que seu processo de composição é, segundo suas palavras, “altamente intuitivo, pra não dizer mediúnico”. Foi a senha para o desapontamento de alguns admiradores da cantora.  Embora suas músicas falem de um amor casto e monogâmico, muitos fãs evangélicos já estão providenciando o tradicional "vou jogar fora no lixo" dos CDs de Paula Fernandes. Parece que a apologia do amor fiel só é bem-vinda quando dita por um conselheiro cristão. Paula foi ao programa Show Business , de João Dória Jr., e se declarou espírita.  Falou ainda que não tem preconceito religioso, “mesmo porque Deus é um só”. Em seguida, ela disse que não compõe sozinha, que às vezes, nas letras de suas canções, ela lê “palavras que não sabe o significado”. O que a cantora quis dizer com "palavras que não sei o significado"? Fiz uma breve varredura nas suas letras e, verificando que o nível léxico dos versos não é de nenhu

Nabucodonosor e a música da Babilônia

Quando visitei o museu arqueológico Paulo Bork (Unasp - EC), vi um tijolo datado de 600 a.C. cuja inscrição em escrita cuneiforme diz: “Eu sou Nabucodonosor, rei de Babilônia, provedor dos templos de Ezágila e Égila e primogênito de Nebupolasar, rei de Babilônia”. Lembrei, então, que nas minhas aulas de história da música costumo mostrar a foto de uma lira de Ur (Ur era uma cidade da região da Mesopotâmia, onde se localizava Babilônia e onde atualmente se localiza o Iraque). Certamente, a lira integrava o corpo de instrumentos da música dos templos durante o reinado de Nabucodonosor. Fig 1: a lira de Ur No sítio arqueológico de Ur (a mesma Ur dos Caldeus citada em textos bíblicos) foram encontradas nove liras e duas harpas, entre as quais, a lira sumeriana, cuja caixa de ressonância é adornada com uma escultura em forma de cabeça bovina. As liras são citadas em um dos cultos oferecidos ao rei Nabucodonosor, conforme relato no livro bíblico de Daniel, capítulo 3. Aliás, n