Sabe a pole dance, aquela dança em que uma mulher fica seduzindo um poste? Pois é. A música pop virou concurso de pole dance. Britney Spears, Rihanna, Beyoncé, Shakira, Fergie, Kate Perry, Nicky Minaj, Ke$ha e congêneres viraram dançarinas de pole dance, barganhando a atenção do público por meio de megavoz (nem todas) e mini-roupas (todas).
Mas, afinal, o que querem as divas do pop? Vestir-se como stripper e rebolar pelo resto de suas vidas? Taí a Madonna, há 30 anos como porta-estandarte do rebolation made in USA.
Não estou atacando de moralista contra as belas moçoilas, que são bem grandinhas pra saber o que fazer da vida e podem se vestir e cantar do jeito que bem entenderem. E nem tenho moral pra ficar jogando pedra na Geni. Mas tem que ser moralista para se preocupar com o arrastão do sensualismo glamourizado das novas estrelas da música pop? Tenho outras razões.
A primeira é esse engodo sofisticado de parte de sociólogos e feministas dizendo que Beyoncé e cia. representam o “empoderamento da mulher contemporânea”. Então é isso? A mulher ganhou mais poder pra vestir lingerie de couro, passar a mão em dançarino sarado e mostrar o corpão para o delírio da galera? O poder conquistado serve para imitar os roqueiros descamisados e priápicos dos anos 70? Grandes proezas.
Empoderamento de fato é a mulher ganhar o mesmo salário que um homem quando ambos exercem mesma profissão. Empoderamento seria a mulher ter direito a muito mais tempo de licença-maternidade para cuidar dos pequenos. Empoderamento é não mais ser usada como isca em propaganda sexista na TV. Empoderamento é a mulher não entrar em casa noturna que facilita sua entrada anunciando, com um machismo atroz, que “até meia-noite mulher não paga”.
O segundo motivo é o fato de que as maiores estrelas do pop aderem ao “padrão stripper”. Sobra pouco espaço para outro tipo de música e outro tipo de cantora. Madeleine Peyroux? Esperanza Spalding? Sem chance. Estas duas não usam ventilador de palco para cabelos esvoaçantes, nem fazem coreografias com dez dançarinas, nem cantam refrões robotizados.
Por isso, para cada Adele que aparece, surgem dez Shakiras. Já há quem chame a jovem e bem-comportada estrela Taylor Swift de ingênua. Não demora e vão transformar a menina em mais uma periguete do pop do jeito que fizeram com Mariah Carey e Miley Cyrus.
E o Brasil? Oh, yes, nós temos material girls tupiniquins! O calypso, o funk e o axé fazem despontar as novas Gretchens. Os gringos mandam o poperô? A gente responde à altura com o “píri-pirí-pirípi”. A indústria pop americana reduz a mulher a uma caricatura de caras e bocas e pernas? Nossa indústria orgulhosamente apresenta a mulher-pomar (Melancia, Morango...)
Uma Britney Spears sozinha não faz verão. Mas, e a repercussão de uma legião de britneys e rihannas na cabecinha atenta das adolescentes, o que faz?
Comentários
P.S: Brother, comprei o último cd da Adele no iTunes, e é bom demais! Qualquer hora dessa a gente ouve e troca impressões...
Abç,
Cilene
"Quando surge uma nova mulher no jazz, os críticos tendem a super sexualizar a artista. O que você acha disso?"
Isso acontece em todos os lugares, porque vivemos em uma era de de super sexualização. Isso se aplica a muitas coisas. Sexo vende e por isso muitos artistas incorporam esse aspecto da sua imagem, porque eles entendem que o seu principal objetivo é sua carreira, é tocar. Então eles pensam: O que vai fazer minha carreira ir pra frente?. Eles têm talento, um som único, beleza e sexualidade também. É só uma questão de o que as pessoas ficam confortáveis mostrando. Para algumas mulheres isso não é algo que as envergonhe. Talvez a mídia incentive , mas o artista também aceita e projeta isso. Também existem casos em que o artista não usa esse aspecto como parte da sua apresentação, mas a mídia não vê essa situação e isso pode magoar um pouco.
Como você lida com essa situação?
Não promovo minha sexualidade, nem me visto sexy, nem coloco isso como um atrativo para que as pessoas ouçam a minha música. Não é a minha natureza e não é assim que eu me defino. Quando as pessoas escrevem sobre mim, citando o que eu faço como uma novidade só porque sou mulher, acho bem frustrante. Penso que é uma pessoa de 50 anos que escreve sobre música, cresceu em uma época diferente. Não levo como pessoal. Mas parece que sou uma mulher fazendo algo reservado especialmente para os homens... Isso representa uma mentalidade ultrapassada, que está morrendo. O preconceito com mulheres está muito enraizado, até as mulheres mais independentes podem se pegar impressionadas por seus próprios estereótipos."
Link: http://revistatpm.uol.com.br/so-no-site/entrevistas/esperanza-spalding.html
Assisti à apresentação dela ontem: estupendo! Ao invés de um espetáculo musical, ela prefere oferecer uma música espetacular.