
“Uma tendência aparentemente unânime parece redirecionar todo o estilo novo a uma espécie ordenada de variações de gêneros que flutuam entre o kitsch e o eletrônico em modalidades que vão da bossa nova ao funk: confinada a desfiles de moda, raves ou lounges em ilhas sugestivas, a música moderna é um mantra de muzaks. Suas referências são como um sonho digital que faz com Percy Faith, Mantovani, o período de Ray Conniff na Columbia, os Boston Pops e a Mystic Moods Orchestra um looping infinito em que o que era a lassidão de uma estética de coquetel passa a ser reinterpretado como a sensualidade anestesiada de uma disposição alucinadamente cool. É uma música que confunde deliberadamente o fundo e a figura tentando criar um hiato diabólico entre o som e sua experiência direta: se todo envolvimento pessoal ou afetivo insinuado pelo muzak clássico devesse ser filtrado por mecanismos que reduzissem cada insinuação a uma sugestão quase secreta, hoje todos pretendem assumir como um princípio estabelecido o fato de que qualquer envolvimento não é só antiestético; é imoral. A música moderna pretende transformar o mundo todo numa sala de estar.”
Sérgio Augusto de Andrade
to be continued
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