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a vida que faz diferença

Hospital Nossa Senhora do Pilar, Curitiba, 14:30. Eu, ao teclado, e o maestro Paulo Torres, spalla da Sinfônica do Paraná, começamos a tocar pelos quartos e corredores do hospital. Alguns, presos em leitos da UTI, talvez não escutem, enquanto outros reagem de uma forma que me impressiona.

Uma senhora, enquanto tocávamos o hino “Lindo País”, abre os braços e permanece assim durante toda a música. O que ela estaria pensando? Estaria reagindo apenas à sonoridade, ou aquela música lhe traz recordações e lhe dá esperança, talvez não de cura, mas de vida eterna?

Em outro andar, um jovem marido coloca um sofá à porta do quarto para que sua esposa se sente. Ambos ouvem nitidamente emocionados ao hino “Sou Feliz”. Alguns visitantes saem dos quartos para ouvir e agradecer. Tocamos ainda “Falar com Deus” e “Maior que Tudo”. Também tocamos “Traumerei”, de Schumann, e “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim. No último andar, uma senhora coloca o celular bem perto do violino para que alguém ouça a música que tocamos. Funcionários passam apressados, ocupados; um outro pergunta se podemos tocar algo de Beethoven. Muitos agradecem.

Na semana em que a médica Zilda Arns morre na tragédia do Haiti, eu me pergunto sobre o que estou fazendo. E o que estou fazendo é tão infinitamente pequeno perto do que ela fez em vida!

Perguntas que insistimos em deixar pros outros, como Zilda Arns, responderem: Como meus vizinhos me veem? Como sou no trabalho: gentil e atencioso, ou sou apenas o tímido do trabalho que sai mais cedo na sexta-feira? Sou aquele que gasta os tubos para ficar na moda ou sou daqueles que doam tempo para quem tem necessidades básicas não atendidas?

Não digo que devemos mudar nossas carreiras. Mas há tantos, principalmente aqueles que atuam em áreas da saúde, da educação e da assistência social (eu disse assistência e não assistencialismo), que podem ser a cabeça e não a cauda em suas atuações na sociedade.

Onde estão nossos Martin Luther Kings? Nossas Zilda Arns? Homenagens, discursos, artigos, muito se falará de Zilda Arns, alguém que dedicou a vida em favor da erradicação da pobreza, em favor da saúde da mulher, em prol de crianças sem amparo.

Às vezes, penso que estamos tão ocupados na defesa doutrinária, o que é importante e necessário, que acabamos por desestimular involuntariamente os envolvidos em ações sociais e políticas que fazem diferença na vida de pessoas. O último discurso de Zilda Arns (leia aqui) conjuga o amor de Cristo e o amor ao próximo. Até quando seremos coadjuvantes, quando não, figurantes?

Não se deve renunciar à proclamação do evangelho eterno e da restauração das verdades bíblicas. Nem se pode deixar de reparar as brechas sociais e atar as fraturas da miséria. Cristo faz diferença na vida das pessoas. Zilda Arns fez diferença. E nós, que diferença fazemos na vida dos nossos semelhantes?

Comentários

Kelly M. disse…
É essa pergunta que me faz refletir sobre a minha profissão... e duvidar sobre meu futuro... o que quero?? títulos acadêmicos, reconhecimento, salário, obras publicadas, ou ficar com o mero título de professora, desprezado, desvalorizado, quase esquecido, mas sentir quase que diariamente a transformação que o conhecimento e que a minha influência exercem nos meus queridos alunos??
Espero que um dia a necessidade financeira não fale mais alto!! rsrsrs
joêzer disse…
kellinha,
por pouco me persuades a dar aulas no fundamental. rsrs.
mas percebi que você já fez a segunda opção. e com louvor, ora, pois.
agarantcho-lhe: as escolas precisam de professores com essa dúvida tendenciosa!rs

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