Pular para o conteúdo principal

uma entrevista sobre o gospel no Brasil


O jornal O Estado de S. Paulo publicou (30/11/10) uma matéria sobre minha dissertação de mestrado. A reportagem é de Larissa Linder, especial para o Estadão:  

Uma gravadora de música gospel brasileira conseguiu faturar R$ 18 milhões em 2008. No mesmo ano, uma cantora  evangélica emplacou seu hit na trilha sonora em novela do horário nobre da TV Globo. Foram fatos como esses que fizeram Joêzer Mendonça buscar os motivos do  sucesso da música religiosa. “Quis entender o que a levou a ser esse fenômeno de público e de vendas”, conta o professor e pianista de música sacra.

Para investigar a popularidade da música evangélica durante o preparo de sua dissertação de mestrado – "O Gospel é Pop: Música e Religião na Cultura Pós-Moderna", apresentada no núcleo de Musicologia do Instituto de Artes da Unesp no ano passado –, o professor passou a ouvir muitas canções.

“Tem de tudo, desde rock até funk evangélico; os artistas se apropriam desses ritmos populares para alcançar um público maior.” Mendonça afirma que essa apropriação dos ritmos populares é um dos fatores que mais contribuem para a vendagem dos discos.
“A música serve para dar sentido para as pessoas que não conhecem a religião. Cada gênero serve a um nicho de mercado ou de pessoas a serem evangelizadas.” De acordo com o professor, a canção gospel moderna é elemento primordial das novas práticas litúrgicas – e tem demonstrado atender não somente às demandas espirituais e emocionais, como também às exigências do mercado.

O mercado, aliás, caminha junto com o sagrado, explica o autor da dissertação. “Vivemos numa era de intenso incentivo ao consumo e inclusive há o processo de sacralização do consumo: consumir é como levar o sagrado para casa”, diz. “Então, comprar um CD evangélico é como ser cristão.”

Outro motivo para que a música gospel seja um sucesso de vendas, segundo o autor, foi uma mudança de percepção. Antes, quem definia como ser cristão era o pastor, o padre, enfim. Hoje, o fiel é mais autônomo. “Pode interpretar a Bíblia de várias formas, assim como pode escolher o que considera ser cristão. Se ele acha que comprar um CD de pagode gospel é ser temente a Deus, ele se sente livre para fazê-lo”, avalia.

O autor faz uma ressalva. “Questiono se esse processo de transformar música religiosa em música pop não dilui a mensagem do Evangelho.”


*****
Nota na pauta: durante a pesquisa, além de ouvir canções, li outras pesquisas a respeito do novo comportamento evangélico, fui atrás de livros de sociologia da cultura e da religião e visitei os sites de muitos cantores gospel. Defendi a dissertação em 2009. Fico feliz quando algumas menções começam a aparecer. 
Nesse semestre, revisei a dissertação, cortei aqui, acrescentei dados novos ali, enxuguei o jargão acadêmico, enfim, acho que ficou melhor para ler. Agora é sair atrás de uma boa editora que se interesse em publicá-la como livro.

Comentários

Daniel Freitas disse…
Reconhecimento merecido meu amigo! Parabéns! Aguardamos a publicação da sua dissertação, pois certamente aprenderemos muito sobre o movimento 'gospel'.
Abs.
Zierley Jardim disse…
opa. parabéns, querido.
já me instigou. quando publicar, avisa aqui.
boa quinta.
ana claudia disse…
muito bom, joêzer! que tal publicar um artigo em nosso portal Cristianismo Criativo! escreva-me -ana.endo@gmail.com! e me add no twitter - anabraunendo

abs!
joêzer disse…
oi, Ana Claudia,
já enviei o request para o seu twitter. será um prazer escrever um artigo para o Cristianismo Criativo.
Anderson disse…
Que bom que um meio de comunicação de destaque como "O Estado de São Paulo" se interessou pela sua tese. Tá na hora dos evangélicos sinceros e comprometidos com a Palavra de Deus refletirem sobre a banalização da Mensagem. Parabéns, Joêzer!

Postagens mais visitadas deste blog

o mito da música que transforma a água

" Música bonita gera cristais de gelo bonitos e música feia gera cristais de gelo feios ". E que tal essa frase? " Palavras boas e positivas geram cristais de gelo bonitos e simétricos ". O autor dessa teoria é o fotógrafo japonês Masaru Emoto (falecido em 2014). Parece difícil alguém com o ensino médio completo acreditar nisso, mas não só existe gente grande acreditando como tem gente usando essas conclusões em palestras sobre música sacra! O experimento de Masaru Emoto consistiu em tocar várias músicas próximo a recipientes com água. Em seguida, a água foi congelada e, com um microscópio, Emoto analisou as moléculas de água. Os cristais de água que "ouviram" música clássica ficaram bonitos e simétricos, ao passo que os cristais de água que "ouviram" música pop eram feios. Não bastasse, Emoto também testou a água falando com ela durante um mês. Ele dizia palavras amorosas e positivas para um recipiente e palavras de ódio e negativas par

paula fernandes e os espíritos compositores

A cantora Paula Fernandes disse em um recente programa de TV que seu processo de composição é, segundo suas palavras, “altamente intuitivo, pra não dizer mediúnico”. Foi a senha para o desapontamento de alguns admiradores da cantora.  Embora suas músicas falem de um amor casto e monogâmico, muitos fãs evangélicos já estão providenciando o tradicional "vou jogar fora no lixo" dos CDs de Paula Fernandes. Parece que a apologia do amor fiel só é bem-vinda quando dita por um conselheiro cristão. Paula foi ao programa Show Business , de João Dória Jr., e se declarou espírita.  Falou ainda que não tem preconceito religioso, “mesmo porque Deus é um só”. Em seguida, ela disse que não compõe sozinha, que às vezes, nas letras de suas canções, ela lê “palavras que não sabe o significado”. O que a cantora quis dizer com "palavras que não sei o significado"? Fiz uma breve varredura nas suas letras e, verificando que o nível léxico dos versos não é de nenhu

Bob Dylan e a religião

O cantor e compositor Bob Dylan completou 80 anos de idade e está recebendo as devidas lembranças. O cantor não é admirado pela sua voz ou pelos seus solos de guitarra. Suas músicas não falam dos temas românticos rotineiros, seu show não tem coreografias esfuziantes e é capaz de este que vos escreve ter um ataque de sonolência ao ouvi-lo por mais de 20 minutos. Mas Bob Dylan é um dos compositores mais celebrados por pessoas que valorizam poesia - o que motivou a Academia Sueca a lhe outorgar um prêmio Nobel de Literatura. De fato, sem entrar na velha discussão "letra de música é poesia?", as letras das canções de Dylan possuem lirismo e força, fugindo do tratamento comum/vulgar dos temas políticos, sociais e existenciais. No início de sua carreira musical, Dylan era visto pelos fãs e pela crítica como o substituto do cantor Woody Guthrie, célebre pelo seu ativismo social e pela simplicidade de sua música. Assim como Guthrie, o jovem Bob Dylan empunhava apenas seu violão e ent