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se eu quiser falar com Deus: MPB e canção cristã

A religião também está presente na música popular brasileira. Em suas músicas, os compositores revelam seu modo de entender os assuntos sagrados. Nos anos 90, Gilberto Gil escreveu a canção "Se eu quiser falar com Deus" e entregou ao cantor Roberto Carlos. Este se recusou a gravá-la alegando que não concordava com a maneira de se relacionar com Deus descrita na letra.  

Anos depois, Mário Jorge Lima, compositor e teólogo adventista, compôs "Se eu quiser falar com Deus", uma espécie de explicação doutrinária sobre a oração, sobre a comunicação com Deus, que também funciona como resposta elegante no campo musical e hermenêutico à canção de Gil. A diferença entre as canções está menos na parte estritamente melódica do que na parte teológica, isto é, na compreensão de cada compositor sobre a relação entre o homem e Deus. 

Enquanto a inegável força poética da canção de Gilberto Gil deixa entrever a dúvida e a ambiguidade e, ainda, uma visão de abandono e autossuplício como parte da caminhada para se chegar a Deus, Mário Jorge Lima utiliza versos de uma forma didática para explicitar uma maneira mais acolhedora e simples de relacionar-se com Deus. Ora, vejam: um compositor de excelência como Gil complica a relação do homem com Deus de um jeito que só certos teólogos eruditos conseguem; e o erudito Mário Jorge Lima simplifica esse relacionamento de um jeito que só certos compositores populares são capazes.

A revista de teologia Kerygma, do Unasp - campus 2 (Centro Universitário Adventista de São Paulo), publicou um artigo de minha autoria em que descrevo as distinções de pensamento e interpretação teológica dos dois compositores, Gilberto Gil e Mário Jorge Lima. Para entender melhor, você pode acessar o artigo nesse link da revista: 

Nota: no começo do artigo falo sobre a teomusicologia, tema e método da minha pesquisa no doutorado. Se quiser conhecer esse ramo de estudos, vá em frente. Se não, você pode saltar essa parte de justificativa metodológica e ler partes seguintes sem nenhum prejuízo ao entendimento geral do texto.


Comentários

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Artigo excelente, Joêzer! O link atual é: https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/152/151
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Obrigado pela leitura e pela atualização do link, Luciana.

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