Em 2003, o coral jovem do qual eu era o regente foi cantar em uma igreja evangélica. Chegamos cedo, passamos o som e ficamos à espera do início da programação. Nos avisaram que, antes de cantarmos, haveria um momento de louvor com uma banda daquela igreja.
Um a um, os jovens músicos começaram a passar seus instrumentos. O sonoplasta pediu: “Faz uma levada aí”. O baterista se aprumou, fez uma virada espetacular e começou sua levada: um axé-pop incansável. Em seguida, o baixista executou todas as lições de slap que aprendeu na vídeo-aula do Arthur Maia.
Alguns membros da igreja, os de mais idade, já estavam ali e me olharam para ver minha reação. Fiz aquela cara de quem encontrou Jesus de “um jeito diferente que é tão normal” e sorri como quem acredita que o importante é que “esses moços pobres moços” estão tocando na igreja e falando a sua própria língua.
Durante os momentos de louvor fui percebendo o quanto as letras das canções jovens (de pentecostais, protestantes e católicos) foram acometidas de uma palidez geral. É nítido que a densidade teológica não é uma preocupação dos letristas. O importante agora é fazer a congregação sentir, experimentar a sensação de que o Espírito está Se movendo, tocando os corações dos levitas, impulsionando às doces lágrimas da adoração. Letra? É só repetir sete versos onze vezes enquanto estão todos de olhos fechados, mãos levantadas acenando durante dez, quinze minutos.
Se a cultura musical gospel tem gerado uma nova tradição, um novo modo de ser evangélico, a assim chamada “revolução gospel” tem acarretado o aparecimento de novas zonas de segregação e tradicionalismo.
Segregação da hinódia clássica, haja vista o isolamento concedido às músicas que marcam a trajetória cristã. Essa ação reflete a ausência de senso de pertença ao passado e desliga-se dos modelos protestantes institucionais e doutrinários. O conteúdo de um hinário tradicional aborda uma grande variedade de temas, cobre séculos de linhagem poética e musical e confirma as doutrinas com adequado senso hermenêutico. E mais: alguns daqueles mais de 600 hinos apresentam a linearidade teleológica bíblica de criação, queda, sacrifício de Jesus e esperança de vida eterna ou segunda vinda em suas 3 ou 4 estrofes (ver Quão Grande és Tu, Porque Ele vive, Sou Feliz).
O antigo tradicionalismo, aquele que não compreende a dinâmica de mudanças e adaptações da música sacra, cede espaço ao apego às novas tradições, que só admitem as composições mais recentes e os novíssimos modos de evangelização da juventude. O antigo se torna rígido e excludente; os novos buscam o sensacional e acabam sendo também excludentes.
A igreja estaria se transformando em mais um lugar “onde os velhos não têm vez”? O que fazer se ao se criar uma nova liturgia ao gosto jovem exclui-se a liturgia histórica. O que penso como algumas sugestões: é possível dar características indispensáveis ao novo repertório, como a teologização mais profunda dos temas, utilizar canções que não incentivem o emocionalismo autocomplacente (tão inadequado quanto o racionalismo estéril), evitar a longa duração de uma mesma música (mesmo que seja uma adaptação de uma canção de outra denominação) e, acima de tudo, perceber que a música para a igreja não é uma questão musical ou cultural apenas. É uma questão de foro espiritual. Tem a ver com comunhão, entrega e estudo.
Um a um, os jovens músicos começaram a passar seus instrumentos. O sonoplasta pediu: “Faz uma levada aí”. O baterista se aprumou, fez uma virada espetacular e começou sua levada: um axé-pop incansável. Em seguida, o baixista executou todas as lições de slap que aprendeu na vídeo-aula do Arthur Maia.
Alguns membros da igreja, os de mais idade, já estavam ali e me olharam para ver minha reação. Fiz aquela cara de quem encontrou Jesus de “um jeito diferente que é tão normal” e sorri como quem acredita que o importante é que “esses moços pobres moços” estão tocando na igreja e falando a sua própria língua.
Durante os momentos de louvor fui percebendo o quanto as letras das canções jovens (de pentecostais, protestantes e católicos) foram acometidas de uma palidez geral. É nítido que a densidade teológica não é uma preocupação dos letristas. O importante agora é fazer a congregação sentir, experimentar a sensação de que o Espírito está Se movendo, tocando os corações dos levitas, impulsionando às doces lágrimas da adoração. Letra? É só repetir sete versos onze vezes enquanto estão todos de olhos fechados, mãos levantadas acenando durante dez, quinze minutos.
Se a cultura musical gospel tem gerado uma nova tradição, um novo modo de ser evangélico, a assim chamada “revolução gospel” tem acarretado o aparecimento de novas zonas de segregação e tradicionalismo.
Segregação da hinódia clássica, haja vista o isolamento concedido às músicas que marcam a trajetória cristã. Essa ação reflete a ausência de senso de pertença ao passado e desliga-se dos modelos protestantes institucionais e doutrinários. O conteúdo de um hinário tradicional aborda uma grande variedade de temas, cobre séculos de linhagem poética e musical e confirma as doutrinas com adequado senso hermenêutico. E mais: alguns daqueles mais de 600 hinos apresentam a linearidade teleológica bíblica de criação, queda, sacrifício de Jesus e esperança de vida eterna ou segunda vinda em suas 3 ou 4 estrofes (ver Quão Grande és Tu, Porque Ele vive, Sou Feliz).
O antigo tradicionalismo, aquele que não compreende a dinâmica de mudanças e adaptações da música sacra, cede espaço ao apego às novas tradições, que só admitem as composições mais recentes e os novíssimos modos de evangelização da juventude. O antigo se torna rígido e excludente; os novos buscam o sensacional e acabam sendo também excludentes.
A igreja estaria se transformando em mais um lugar “onde os velhos não têm vez”? O que fazer se ao se criar uma nova liturgia ao gosto jovem exclui-se a liturgia histórica. O que penso como algumas sugestões: é possível dar características indispensáveis ao novo repertório, como a teologização mais profunda dos temas, utilizar canções que não incentivem o emocionalismo autocomplacente (tão inadequado quanto o racionalismo estéril), evitar a longa duração de uma mesma música (mesmo que seja uma adaptação de uma canção de outra denominação) e, acima de tudo, perceber que a música para a igreja não é uma questão musical ou cultural apenas. É uma questão de foro espiritual. Tem a ver com comunhão, entrega e estudo.
Comentários
forte abraço
vou ficar no aguardo desse texto, amigo.
abraço
vou lá com certeza.