A seção "Cem Palavras" volta hoje. Escolhi um texto de Ed Renê Kivitz. Tenho cá minhas restrições quanto à "imanência" como única possibilidade de encontro com o divino, principalmente devido ao extremismo que provém da compreensão de um Deus imanente-dentro-da-gente. Sou atraído pelo ponto de tensão entre transcendência e imanência na relação homem-divindade. Mas para refletir a partir de um texto como esse não é preciso concordar com todas as suas vírgulas. Continue lendo:
"Acabo de ler O espírito do ateísmo, onde André Comte-Sponville propõe uma espiritualidade para ateus, isto é, uma metafísica sem Deus, e demonstra uma sobriedade ausente entre os recentes “religiofóbicos”, como Richard Dawkins, Michel Onfray e Christopher Hitchens. Ao final de sua argumentação, conta que na adolescência, após ler o Eclesiastes, escreveu no caderno de notas: “Das duas uma. Ou Deus existe, e então nada tem importância. Ou Deus não existe, e então nada tem importância”. Na vida adulta conclui: “Não filosofei em vão. Repensando aquela fórmula da minha adolescência eu antes diria o contrário: “Ou Deus existe, e então tudo é importante; ou Deus não existe, e então tudo é importante”. Comento as possibilidades.
"Deus não existe, então nada é importante. Isso é niilismo. Um mundo sem Deus é vazio de valores superiores, ou como disse Nietzsche, “faltam os fins, não há mais resposta para a questão: para que?”. Pensamento concorde com Dostoiévski: “Se Deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido”. Deus é a base absoluta do juízo moral, a única plataforma verdadeira de responsabilidade infinita. Os céticos aos poucos se tornam cínicos. E logo se tornam loucos. Não é possível ao homem sobreviver no vazio.
"Deus existe, então nada é importante. Isso é fanatismo. Separar Deus de sua criação e jogar todas as fichas na transcendência, numa espiritualidade abstrata, implica abandonar a única possibilidade de encontro com o divino, a saber, a imanência, com que se pode interagir dada a transparência. A tentativa de experimentar Deus além da imanência é ilusória. Dar as costas ao mundo de Deus é desprezar o Deus do mundo. Não peço que os tires do mundo… Apenas os fanáticos se sentem bem na “espiritosfera”. E lá também enlouquecem.
"Deus não existe, então tudo é importante. Isso é materialismo. É dar valor último ao que é penúltimo. Chesterton tinha razão, quando deixamos de acreditar em Deus, acabamos crendo em qualquer bobagem. O que é esse “tudo” sem Deus, senão deus? Ainda não entendi (falha minha, é claro), a lógica que afirma que a descrença em Deus resulta em melhor humanidade. Se Deus não existe, tudo é efêmero. Então tudo é temporariamente importante. O que é temporariamente importante, não é importante em si, mas em sua função no tempo. Toda importância é relativa. Toda importância relativa é uma desimportância. Esta terceira possibilidade não me faz sentido. Entre esta e a primeira, fico com a aquela.
"Deus existe, então tudo é importante. Isso não sei o que é. Mas é a fé que me mobiliza".
"Acabo de ler O espírito do ateísmo, onde André Comte-Sponville propõe uma espiritualidade para ateus, isto é, uma metafísica sem Deus, e demonstra uma sobriedade ausente entre os recentes “religiofóbicos”, como Richard Dawkins, Michel Onfray e Christopher Hitchens. Ao final de sua argumentação, conta que na adolescência, após ler o Eclesiastes, escreveu no caderno de notas: “Das duas uma. Ou Deus existe, e então nada tem importância. Ou Deus não existe, e então nada tem importância”. Na vida adulta conclui: “Não filosofei em vão. Repensando aquela fórmula da minha adolescência eu antes diria o contrário: “Ou Deus existe, e então tudo é importante; ou Deus não existe, e então tudo é importante”. Comento as possibilidades.
"Deus não existe, então nada é importante. Isso é niilismo. Um mundo sem Deus é vazio de valores superiores, ou como disse Nietzsche, “faltam os fins, não há mais resposta para a questão: para que?”. Pensamento concorde com Dostoiévski: “Se Deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido”. Deus é a base absoluta do juízo moral, a única plataforma verdadeira de responsabilidade infinita. Os céticos aos poucos se tornam cínicos. E logo se tornam loucos. Não é possível ao homem sobreviver no vazio.
"Deus existe, então nada é importante. Isso é fanatismo. Separar Deus de sua criação e jogar todas as fichas na transcendência, numa espiritualidade abstrata, implica abandonar a única possibilidade de encontro com o divino, a saber, a imanência, com que se pode interagir dada a transparência. A tentativa de experimentar Deus além da imanência é ilusória. Dar as costas ao mundo de Deus é desprezar o Deus do mundo. Não peço que os tires do mundo… Apenas os fanáticos se sentem bem na “espiritosfera”. E lá também enlouquecem.
"Deus não existe, então tudo é importante. Isso é materialismo. É dar valor último ao que é penúltimo. Chesterton tinha razão, quando deixamos de acreditar em Deus, acabamos crendo em qualquer bobagem. O que é esse “tudo” sem Deus, senão deus? Ainda não entendi (falha minha, é claro), a lógica que afirma que a descrença em Deus resulta em melhor humanidade. Se Deus não existe, tudo é efêmero. Então tudo é temporariamente importante. O que é temporariamente importante, não é importante em si, mas em sua função no tempo. Toda importância é relativa. Toda importância relativa é uma desimportância. Esta terceira possibilidade não me faz sentido. Entre esta e a primeira, fico com a aquela.
"Deus existe, então tudo é importante. Isso não sei o que é. Mas é a fé que me mobiliza".
Comentários
Valem cada minuto, obviamente com um filtro adventista aqui e acolá.
Abraço.
valeu a recomendação sobre o pr. ed renê kivitz. e filtro protege sempre.
"o refúgio" está amadurecendo, a música. quanto ao aurélio, não posso facilitar pra turma que se dá ao trabalho de ler este blog!
eis o q restou no fim da leitura
:)
a casa é nossa! entre sem bater.
Uno-me você, mestre Joêzer: "também não sei o que é".
Só sei que entre o niilismo, fanatismo e o materialismo, o importante é o cristianismo, fruto da experiência da fé, vivida e vívida.
Parece apenas um acento a diferenciar duas palavras. Porém, "viver a fé" baseada na experiência vivida, cortejada, experimentada no calo do joelho, além de tornar a vida diferente, a faz importante.
O "viver por fé" sublinha o fato de que "tudo é importante, porque Deus existe". O acento da vida está em uma "fé vívida". Trata-se da proparoxítona da fé.
Um cristianismo vivido e vívido dá significado a vida e sentido a "esperança", como caminhada cristã.
Abraço
Feliz Sábado
Jael Eneas
que palavras inspiradoras.