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Quarteto para o fim dos tempos

Os furacões e terremotos de ordem natural e econômica das últimas semanas levaram os arautos do fim do mundo a soarem suas trombetas mais uma vez. Contudo, o que está acontecendo são sinais de tempos apocalípticos sérios e que merecem nossa compreensão? Ou será esta nova crise generalizada apenas mais uma turnê do fim do mundo? Se observarmos os eventos atuais de maneira isolada, compartimentada, obteremos somente uma visão parcial e pouco confiável do que se chama eventos finais. Porém, se tivermos uma perspectiva mais global, se compreendermos a interrelação de fatos concretos, encontraremos evidências de uma crise conjuntural diferenciada. Consideremos, então, alguns acontecimentos utilizando a forma de um "quarteto para o fim dos tempos".

1º movimento - O declínio americano: a invasão do Iraque pelos Estados Unidos acirrou os ânimos anti-americanos de várias partes do mundo; a difusão de uma cultura estética erotizada, violenta e efêmera fez recrudescer o ímpeto ultra-conservador norte-americano; a queda dos mercados, a aguda crise de instituições financeiras centenárias, o declínio da pujança econômica estadunidense arrastando de roldão mercados emergentes. O país do “Estado laico” e do “livre-mercado” é a mesma nação tomada pela dissolução ética, por elevados índices de poluição e pelo clima anti-terror que produziu vigilância inconstitucional, prisões arbitrárias e tortura. Este mesmo país governado pela ultra-direita cristã estende as mãos sobre o Atlântico para o Vaticano em nome da ética global, instaura uma fobia anti-terrorista e converge a opinião da grande mídia em defesa de suas ações e agora “estatiza” organizações financeiras independentes e falidas.

2º movimento - Condenação do materialismo: na reformulação de suas identidades, as religiões universais encontram na ecologia e na ética um referente global. A denúncia do consumismo também faz parte da nova retórica religiosa. O budismo prevê o equilíbrio na produção de bens e de consumo, o islamismo combate o mundo materialista como um anátema demoníaco e a idéia de holismo media a perspectiva do pensamento ecológico integrado. A crítica a uma sociedade esbanjadora e consumista, porém, opõe-se visivelmente à ascese e moderação do protestantismo tradicional e das religiões orientais. Na China, prega-se o budismo econômico para os pobres enquanto o capitalismo mais desenfreado é adotado pelas outras classes sociais. O neopentecostalismo e o novo protestantismo estimulam agressivamente o consumo de bens “sacralizados e ungidos”. E Bento XVI condena o materialismo e ao mesmo tempo usa sapatos Prada, casula com 15 km de fios de prata e anel de ouro 24 quilates.

3º movimento - A defesa da Terra: aumento da poluição, escassez de água, desmatamento irrefreável, aquecimento global, esgotamento dos recursos materiais de sobrevivência. Um cenário apocalíptico de destruição do homem pelo homem causando a agonia lenta e gradual do planeta. Pano de fundo próprio para os defensores do ambiente atenderem o pedido de socorro da Terra, certo? Certo, mas não é só isso. Não apenas os ambientalistas do verde-que-te-quero-verde, não só os xiitas do GreenPeace, mas a Igreja Católica entrou pra valer na ecologia (digite "ecologia" no site zenit.org de informação católica). Leonardo Boff, o padre que lia o evangelho segundo o marxismo, direciona suas boas intenções para o alerta eco-teológico, a olhar para o recente conteúdo de seus livros – Ecologia, mundialização e espiritualidade e Nova Era: a civilização planetária. Sua visão do evangelho agora privilegia a existência de um Deus ecologicamente orientado e de um conhecimento ecocentrado em que o universo divino e o planeta Terra holisticamente se fundiriam no mesmo cosmos, inaugurando um novo modo de ser. A ecologia torna-se um paradigma que reorienta os caminhos da humanidade.

4º movimento - Uma ética global: fome, pobreza, crime organizado, corrupção política, opressão econômica, conflitos raciais e guerras étnicas. Retratando o colapso dos sistemas laicos de governo e regulação social, o Parlamento das Religiões Universais, realizado em Chicago-1993, enfatiza em sua declaração final a necessidade de um consenso global e uma atualização de vínculos morais entre pessoas que dividem o mesmo destino e o mesmo planeta. Caberia, então, às entidades religiosas o papel de administrar, em conjunto com as instituições democráticas legais, a profusão de problemas e sua complexidade de resolução. Assim, o discurso religioso voltaria a ter uma dimensão de atuação planetária ao pressupor uma moral planetária, desta vez sob a justificativa de uma nova ética mundial.

Como num concerto erudito, os “movimentos” quando escutados separadamente proporcionam uma audição incompleta. Contudo, ao escutarmos todas as seções do mesmo concerto, podemos entender a intenção do compositor, o estilo da interpretação do instrumentista, o que o autor e o intérprete estão comunicando. Relacionando os quatro “movimentos” acima é possível situar-se no tempo e na história e compreender de forma mais abrangente tanto os eventos que já se foram quanto aqueles que estão por vir.

O título desse texto é uma referência ao título de uma obra-prima musical de Olivier Messiaen (1908-1992).

Comentários

André Reis disse…
Joêzer,

Interessante, porém, esse é o entendimento escatológico puramente Adventista do século 19. Este sistema foi baseado na premissa de que o Remanescente seria fiel em sua missão de pregar o Evangelho a todo o mundo em um geração. (Lema JA).

Hoje a IASD encontra-se atolada em institucionalismo e murcha cada vez mais nos países Europeus e periga cair na irrelevância aqui nos EUA. A Igreja Central de Berlim por exemplo, é um grupo de menos de 100 pessoas, em sua maioria de cabelos brancos. Qualquer igreja de interior nos EUA tem idade mediana de 80!

Se a parousia demorar algumais décadas mais, a China terá que ser entendida como a BESTA porque será o poder mundial. E por aí vai...

Enfim, acho que temos limitado demais a revelação ao tentar expandi-la. A única coisa que é 100% segura é a vinda de Cristo, agora como chegaremos lá, depende de que personagens centrais vamos escolher. A IASD pensa que é ela, os Mormons pensam que são eles, os Pentecostais, eles, as seitas, elas.

Minha missão como músico é pregar a Salvação gratuita em Jesus e não atravancar a mensagem com detalhes que nem nós sabemos como vão se desenrolar. Lembre-se que a Bíblia é menos categórica na sequência dos eventos do que nós queremos que ela seja, e isso me leva a confiar que Deus está no controle, não importa quanto tempo demore.

Prefiro pensar que Deus é o personagem central dessa história e Ele, em sua infinita paciência muitas vezes adpta seu plano porque nós falhamos. A IASD falhou e tem falhado e hoje não somos mais O remanescente, mas somos PARTE desse remanescente que prega o Evangelho da Salvação em Cristo Jesus pelo mundo afora, incluindo Batistas et al.

Que Ele venha logo e que eu esteja preparado!

Abraços,
André
joêzer disse…
caro andré,
concordo com os analistas que crêem que a tal BESTA não é um país ou alguém.
se a China tem participação mais decisiva? já está tendo. na Depressão de 29, os EUA estavam com o dinhiero no cofre. agora, suas reservas estão majoritariamente na Ásia.

quem escreveu que a falência ética e financeira dos EUA faria parte de eventos escatológicos escreveu antes de 1915, época em que poucos apostariam numa hegemonia norte-americana e não numa continuidade do império britânico e da força cultural francesa.
comentaristas políticos notam o avanço chinês, mas fazem ressalvas. A China mostra características (atualmente) de ser uma bolha econômica com 200 milhões de miseráveis encaminhando-se para os centros urbanos mais favorecidos; nações hegemônicas têm sua cultura e sua língua copiadas enquanto a China só absorve sem reciclar (redescobre a música clássica e se encanta pela cultura pop em língua inglesa; a barreira do alfabeto é quase insuperável);
nações imperialistas exportam seu sistema de governo, seu sistema contábil e sua religião é fortemente missionária (a China politicamente é fechada, fez uma mistura do pior do capitalismo com um socialismo de fachada, suas "religiões" não são religiões de salvação - são consideradas mais um excepcional conjunto de ensinamentos gerais e o 'boom' new age parece ter passado).
claro, tudo isso são avaliações feitas com o arsenal histórico até hoje. muita coisa pode mudar.
só sei que, do muito que falamos e especulamos hoje (até o advento é especulação messiânica nessa linha de raciocínio), quando o que tiver que acontecer, acontecer, diremos, se estivermos por aí: ah, então aquilo significava isso...
mas também não creio que fomos deixados à deriva sem pistas ou sinais confiáveis. seria insegurança ontológica e escatológica demais pro seu amigo aqui.

abraços

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