"Mundo" não são pessoas. São ações e valores imorais, amorais e egoístas. Cristãos, dos mais simples aos mais eruditos, convivem diariamente com pessoas não-cristãs (no trabalho, na rua, em casa, veem na tv) e sabem que, entre estas, existem pessoas de grande caráter e nobreza de alma. Isso vem desde muito tempo. Não por acaso, Jesus curava pessoas tidas como pagãs por muitos judeus e ainda acrescentava: "Nem em Israel vi tamanha fé".
Se alguém perguntar "não existem pessoas boas fora da igreja?" para um pastor ou para a vovó Maria, é provável que ambos digam que pessoas boas e más existem em todo lugar. Minha vó acrescentará, com sua fé simples e sem maiores digressões metafísicas, que é bem capaz que existam mais pessoas realmente boas fora da igreja do que dentro (mas de forma alguma recomendará para que alguém abandone a fé, a igreja, por causa disso).
Claro que alguns não sabem externar um pensamento mais equilibrado e acabam criando um apartheid espiritual mesmo. Lutar contra essa forma de segregação tem sido um engajamento de muito bom cristão. Quantas vezes ouvi sermões que apontavam para si e para os próprios membros da igreja, convocando-nos a sair da letargia, da falsa moral, do absurdo senso de exclusivismo de salvação. Em diversos blogs de cristãos que leio também percebo esse chamamento à vida cristã mais sincera e respeitosa.
Mas isso não é de hoje. Chesterton, C. S. Lewis, Moody, Billy Graham, Lutero (posso juntar Roberto Rabelo a esse grupo?), cada a um seu modo, e sem autoproclamar-se santos, chamavam os cristãos de suas épocas a viverem um vida de santidade diante de Deus e dos homens. O apóstolo Paulo, o maior teólogo de todos, identificava sérios problemas na igreja primitiva - e não apenas de ordem doutrinária, mas sobretudo de ordem espiritual e moral. Embora entendesse que havia sido chamado para corrigir e orientar, declarava-se "o menor dos santos" e admitia uma luta contra "um espinho na carne".
O ódio, a intolerância e o autoritarismo notados no meio religioso sem dúvida contribuíram para que os não-cristãos vejam a igreja cristã como uma organização dinheirista, hipócrita, moralista e desprovida de soluções para o mundo moderno. Isso também leva pessoas a generalizar (não sem razão) a atitude excludente e a soberba como marcas do cristianismo.
Lembro que há políticos corruptos escandalosamente, e se bate nessa tecla. Mas não se pensa (é, alguns pensam) em fechar o Congresso ou extinguir o sistema democrático. O melhor, optamos, seria mudar as pessoas que usam o sistema, reformá-lo judiciosamente e fiscalizá-lo com atenção.
Há líderes religiosos falsos e uma membresia preconceituosa (ignorância, desconhecimento do outro, farisaísmo, tudo isso?), fato. Há líderes que procuram promover o pensamento justo e membros que vivem o cristianismo de forma sã, embora passíveis de incorrer em erros que atribuem ao que chamam de "mundo".
A vontade de escrever é mais longa que o dia, tenho que ganhar o pão com o suor do meu rosto (ok, onde trabalho não suo tanto assim). Espero que eu tenha sido hábil em falar sobre isso que chamamos de mundo. Se não consegui, fique com o que disse Jesus em sua oração ao Pai pelos seus seguidores (enquanto orava, os três discípulos que o acompanharam, dormiam. Não seria um retrato da igreja?): "Pai, não peço que os tire do MUNDO, mas que os livre do MAL".
Comentários
taí um desafio diário.
como você percebe, a lei e a doutrina podem orientar nossa caminhada. mas elas não nos garantem um caráter amoroso e gentil. isso vem com entrega sincera, reflexão, desejo (e necessidade) de mudança.
Que seja essa via pela qual vos guie o espírito. Longe da arrogância e da ostentação da verdade.
está aí um caminho harmonioso, onde a virtude e a compreensão de si e do próximo podem aproximar o homem de Deus.
Raulison
realmente existe um problema, qual a solução?
só consigo enxegar uma resposta.
Abraço