Mozart: o cometa mais fulgurante que atravessou o universo da música: foi visto e ouvido por pouco tempo, atribuíram-lhe sinais divinos de astro celeste (e também lhe apontaram sinais diabólicos) e, volta e meia, retorna musicalmente para encantar as novas gerações. Um cometa, sem dúvida.
Recentemente, a Fundanção Mozarteum de Salzburgo divulgou duas peças para piano, até então inéditas, que descobriram ser de autoria de Mozart. Compostas quando o geniozinho tinha só oito anos. Claro, elas não acrescentam nada de novo ao que já é fartamente conhecido. Como disse o crítico musical João Luiz Sampaio, "o que [as peças] fazem é apenas se somar a um quadro fascinante no qual o compositor segue desafiando nossa compreensão do gênio musical".
Embora sua carreira de moleque genial seja posta em dúvida - era ele mesmo que compunha aquelas peças na infância ou o autor era na verdade o seu pai músico, Leopold? -, a liberdade de criação de Mozart o isola de seus contemporâneos. Sim, todo músico classicista bebeu na fonte sinfônica de Haydn. Ok, há elementos que o ligam ao futuro Beethoven. Porém, a faceirice de suas sonatas, a vivacidade de seus concertos, a proeza técnica exigida e magnitude musical de suas óperas (sendo Don Giovanni o Everest das óperas), o colocam noutro patamar da época em que viveu.
Mozart não foi socialmente ejetado dos círculos palacianos por suas estrepolias de menino-sem-infância. Sua música contribuiu para isso. O crítico Johann F. Reichardt disse, quando Mozart tinha 25 anos, que a música instrumental de jovem Wolfgang Amadeus era "extremamente antinatural", pois era "alegre e, de repente, triste e, de repente, alegre novamente".
Muitos dizem que o Mozart tardio é bem melhor - suas últimas sinfonias e concertos. Concordo. Mas o que podíamos esperar? O garoto amadureceu; e sua música junto com ele. O que um guri pode dizer musicalmente aos 17 anos? Beethoven fez nove sinfonias e nem todas são obras-primas indiscutíveis. O que dizer de quem fez quarenta e uma? E começando na infância? Certamente o melhor de Mozart foi composto nos dez-doze últimos anos de sua curta e prodigiosa vida.
Mozart teve uma infância típica de toda criança-prodígio. Com seu pai e sua irmã Nannerl circulava pelos salões da corte europeia feito um brinquedinho circense. Do que você leu até aqui, qualquer semelhança com Michael Jackson é mera coincidência? Foi controverso quando cresceu e afirmou sua arte individual, assombrando e maravilhando as plateias, granjeando admiração e ódio. Às vezes, admiração e ódio vinham na mesma moeda, como bem retrata o ótimo Amadeus - filme que é mais um retrato da visão de amor/repulsa de Salieri em relação à Mozart que uma biografia tradicional do musico. O filme é sobre a reação à genialidade musical e não uma fonte fidedigna de fatos e boatos.
E já estou desviando do assunto. Audioveja o link abaixo. Trata-se de obras precoces do músico de quem o próprio Joseph Haydn escreveu: "... lhe digo diante de Deus e como homem honesto: seu filho é o maior compositor que conheço. Ele tem gosto e a maior ciência da composição" (carta ao pai de Mozart, 1785).
Comentários