O gospel pode ser considerado um dos fenômenos culturais mais significativos do início do século XXI. Nos últimos anos, o gospel deixou de caracterizar um estilo musical de origem norte-americana para agora constituir as novas atitudes e posturas evangélicas. Mais do que música, o gospel passou a ser um modo de produção. O cantor gospel, que alguns chamam de levita ou adorador, tem se tornado não apenas o intérprete musical da mensagem evangélica, mas também passou a ser considerado um multiplicador financeiro de objetos, acessórios, roupas, eventos.
A canção gospel brasileira é multivariada: gêneros populares nacionais e estilos musicais globalizados dividem espaço nas rádios, gravadoras e lojas. Excetuando-se as canções de "Louvor & Adoração", o estilo consolidado no Brasil pelo Ministério Diante do Trono, o repertório gospel está em intensa interação com aqueles estilos de maior sucesso no repertório pop das mídias. Esse é o tema que procurei aprofundar na minha pesquisa de mestrado.
No primeiro capítulo, demonstro como as características da pós-modernidade podem explicar as novas demandas de consumo e expectativas religiosas dos evangélicos no final do século 20. No capítulo seguinte, focalizei as atividades de mercado e o crescimento midiático das denominações neopentecostais (Igreja Universal, Internacional da Graça de Deus, Renascer, Sara Nossa Terra, Bola de Neve e outras).
A seguir, faço uma análise da carreira da cantora e pastora Aline Barros, estudando detalhadamente suas canções, sua performance cênica e vocal, seu direcionamento para o repertório de Louvor e Adoração, e também a publicidade comercial que a cerca. No último capítulo, pesquisei estilos musicais que já foram marginalizados, inclusive pela mídia secular, e recentemente foram adotados em produções musicais do gospel no Brasil, como o axé, o funk e o hip hop.
Uma pesquisa honesta não pode se iniciar com o pesquisador querendo provar de antemão o que já está consolidado em seu pensamento. Isto é, não se pode começar a pesquisar já com o resultado final na cabeça, pelo menos não nas ciências humanas. Se alguém assim fizer, tenderá a torcer e distorcer aquilo que os autores que ele pesquisou de fato queriam dizer. Isso caracteriza uma infração grave de "nome feio": o erro epistemológico.
Digo isso para espanar qualquer mancha de preconceito, no sentido mesmo de pensamento pré-concebido, que alguém possa querer grudar a minha dissertação. Ao contrário, evangélicos renovados poderão entender as evidências de mercantilização da religião e da música religiosa tanto quanto os cristãos tradicionais poderão compreender o caráter historicamente dinâmico da música do cristianismo.
O título da dissertação: "O gospel é pop: música e religião na cultura pós-moderna".
O download do trabalho pode ser feito a partir do site de pós-graduação em música da UNESP:
Algumas pessoas se adiantaram a esse meu anúncio aqui no blog e se interessaram pela pesquisa. Agradeço o interesse dos pesquisadores Célio, Andria Rodrigues e Jairo.
Comentários