Como algumas toadas de louvor de oito versos repetidos ad infinitum (ou "ad extasis"), assim têm se mostrado ao mundo certos modelos de igrejas surgidas na esteira do neopentecostalismo e em avançada expansão: como repetições de histórias de má-fé e engodo.
Se o Ministério Público investiga, os líderes religiosos (e alguns fiéis) se dizem perseguidos pela concorrência; se outros cristãos enxergam falhas vergonhosas, os seguidores dos "bispos" dizem que só quem pode julgar é Deus. Não vou entrar no mérito da "perseguição" - que só existe no plano da concorrência midiática. O que me chama a atenção é essa pressa em repudiar todo julgamento alheio.
Quando uma crítica é dirigida a uma organização religiosa, não se está julgando senão aquilo que já está fartamente notado, investigado e noticiado. Fiados numa equivocada interpretação do famoso "Não julgueis, para que não sejais julgados", os defensores leigos dos bispos neopentecostais não admitem críticas. Ora, meus caros, apontar falhas, repreender o erro e chamar atenção para o ensino fidedigno da Palavra não é julgamento nem tampouco condenação. Além disso, não se pode esquecer que Paulo repreendeu a Pedro, Elias denunciou Acabe e Natã indicou o pecado de Davi.
As evidências de distorção da Bíblia em causa própria, a sonegação de princípios doutrinários em benefício do evangelho pragmático do milagre e do estádio lotado, a fundação de um império financeiro baseado na doação de fiéis, a cantoria que advoga a extravagância no louvor e a paixonite por Jesus: as novas atitudes do recente evangelicalismo nacional não escaparam à pena desafiadora do compositor e cantor João Alexandre, poeta do cristianismo contemporâneo que deixou a suavidade da metáfora um pouco de lado e não economizou agudas e claras referências na letra da canção É Proibido Pensar.
Ele foi acusado de estar julgando seus irmãos por causa da letra da canção É Proibido Pensar. O músico pode ter se excedido, mas certamente ele foi porta-voz de muitos cristãos que veem com dissabor o panorama geral do que um dia conheceram como cristianismo. Pergunta: de quem, de fato, vem a ofensa? Do artista que não fechou os olhos nem a boca e denuncia os modelos de crescimento eclesiástico levados adiante por muitos líderes religiosos e artistas gospel? Ou desses mesmos bispos e levitas, tão rápidos em elaborar novas estratégias de adoração e tão morosos em avançar na compreensão doutrinária?
A seguir, a letra da música (quem canta, entenda):
É Proibido Pensar
Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições
A extravagância vem de todos os lados
E faz chover profetas apaixonados
Morrendo em pé, rompendo a fé dos cansados
Com suas canções
Estar de bem com vida é muito mais que renascer
Deus já me deu sua palavra
E é por ela que ainda guio o meu viver
Reconstruindo o que Jesus derrubou
Recosturando o véu que a cruz já rasgou
Ressuscitando a lei pisando na graça
Negociando com Deus
No show da fé milagre é tão natural
Que até pregar com a mesma voz é normal
Nesse evangeliquês universal
Se apossando do céus
Estão distantes do trono, caçadores de deus
Ao som de um shofar
E mais um ídolo importado dita as regras
Pra nos escravizar.
É proibido pensar
Comentários
Estive fora da igreja por 20 anos, tornei-me professora de música no meio antroposófico e cantora lírica. Levei um grande susto!
Não voltei para criticar nada, mas para contribuir com a música.
Eu so queria entender... e você está me ajudando.
Obrigada!
obrigado pelas palavras gentis que me fazem acreditar que não estou sempre errado.