No século XIX, durante os movimentos e conflitos que visavam à unificação dos pequenos Estados italianos sobre uma bandeira única do reino da Itália, os partidários da união grafavam “Viva Verdi” nos muros. O que parecia só uma homenagem ao compositor Giuseppe Verdi, era um acróstico revolucionário que queria dizer “Viva Vittorio Emanuele Re Di Italia”.
Os músicos que usavam sua arte para protestar contra regimes de opressão, se não escapassem para outro país, raramente escapavam da morte, como o músico e ativista político chileno Victor Jara, que teve as mãos esmagadas por coronhadas e foi executado em 16 de setembro de 1973 no antigo Estádio do Chile (hoje Estádio Victor Jara) pela ditadura do general Pinochet.
A também chilena Violeta Parra, dos versos líricos de “Gracias a la vida”, escreveu versos duros como os de “La carta”: Os famintos pedem pão; chumbo lhes dá a polícia.
Quando impedido de protestar de forma direta, o jeito é metaforizar para provocar o governo autoritário e animar os opositores. A canção “Apesar de Você”, de Chico Buarque, cumpriu esse papel de denunciar um Estado que dizia que era pecado criticar o governo e torturava os revoltosos sem piedade:
Hoje você é quem manda, falou ta falado não tem discussão, não
A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu (...)
Você que inventou esse estado, inventou de inventar toda escuridão
Você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão
(...)
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia
Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria
Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
E esse dia vai vir antes do que você pensa
A canção já tocava nas rádios quando Chico foi “convocado” às pressas para depor no Departamento de Ordem e Política Social (DOPS). O compositor disse que a música não era contra o governo. A canção era sobre uma “mulher muito má” e, apesar do que ela tinha feito, o sujeito seria feliz um dia. Acreditaram nessa história e o compositor foi solto. Mas logo o erro foi percebido e o disco foi recolhido das lojas e a música proibida de tocar nas rádios e nos shows.
Não sei se no Egito de hoje, os músicos estão produzindo artilharia musical contra o governo. Talvez haja pessoas cantando coisas semelhantes a “vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Mas quando o governo egípcio corta o serviço de internet para impedir a manifestação da oposição nacional, o povo bem que podia cantar algo como “Pai, afasta de mim esse ‘cale-se’”.
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