O ano da graça de 2008 já se vai sem deixar muitas saudades na área cultural. O que, de grandioso, de excelente, se realizou? Como sou daqueles que elegem as novidades de ontem em vez das velharias de hoje, o que li, assisti e ouvi nem sempre foi o último grito da moda cultural, porque preferi atracar no porto seguro de livros, filmes e músicas até com mais idade que eu (principalmente em se tratando dos dois últimos itens).
Com a permissão de Gonçalves Dias, de quem empresto o famoso “Meninos, eu vi” do épico I-Juca Pirama, segue uma lista avarenta de atividades culturais, começando pelos livros. Poucos, mas bons.
Meninos, eu li
Música, história cultural, mídia e sociologia da religião foram as áreas mais acessadas. Até porque a gravidade de uma dissertação não me permite outros cuidados. Ou se a termina ou ela nos extermina. Por isso, destaco obras como A religião na sociedade pós-moderna, de Stefano Martelli, e o já clássico A sociedade do espetáculo, de Guy Debord e sua leitura pessimista e apocalíptica da relação mídia-espectador. Ambas, para ler com distanciamento crítico mais que apurado.
Enfatizo também Reading Pop, edição organizada por Richard Middleton que é ótima introdução ao campo da análise textual da música popular, e Hibridismos Musicais, de Herom Vargas, que parte da cena musical recifense de meados dos anos 90 para explicar as misturas culturais que estão no caldo da invenção musical popular.
No estudo da música gospel nacional, ponto central da minha pesquisa, Magali Cunha, professora da Universidade Metodista (SP), publicou sua tese com o título Explosão Gospel, uma investigação vigorosa dos traços de uma cultura gospel identificada com o consumismo e o mercado. Já no livro Apostles of Rock (sem tradução no Brasil), os autores Jay Howard e John Streck dissecam as estruturas do gospel norte-americano ao examinar seu desenvolvimento e sua interação com a cultura pop bem como o diversificado entendimento dos músicos cristãos sobre a música (incluindo aquela visão excessivamente utilitária da música).
Fora do âmbito da dissertação, no campo da religião destaco Ortodoxia, de G. K. Chesterton, pensador católico que, no início do século XX, era um inteligentíssimo apologista do cristianismo, e Mensageira do Senhor, de Herbert Douglass, um exame acurado, amplo e essencial para se compreender a vida digna e a natureza da obra da escritora adventista Ellen White.
Sobrou tempo para ler (de tempo não pude reclamar) O Som e o Sentido, de José Miguel Wisnik, um escritor que cumpre o que promete no subtítulo, a saber, apresentar “uma outra história das músicas”; e, ainda Vida Líquida, do meu sociólogo de cabeceira, como disse o amigo virtual Douglas Reis.
A dissertação ocupou quase o total da literatura a que tive acesso. Assim, nunca li tão pouca ficção desde que devorei a coleção de Jules Verne do meu pai nos antediluvianos anos 80. Os dois únicos: Os Tambores de São Luís, de Josué Montello, com o período da escravidão na capital maranhense servindo de fundo para a emocionante história pessoal de um ex-escravo, e a releitura - interrompida - de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, escritora que sabia dosar como poucas uma aguda inteligência na condução dos romances e uma fina ironia na observação dos costumes sociais (comecei a reler esse livro por causa de um ótimo filme homônimo baseado nessa obra).
Para 2009, desejo a todos nós happy new books. Mas, acima de tudo, que possamos desenvolver felizes olhos novos e deixarmos este ensaio de uma cegueira em que vivemos a fim de enxergarmos com os olhos da razão onde a razão é necessária e com os olhos da fé quando a fé está esquecida.
Meninos, eu li
Música, história cultural, mídia e sociologia da religião foram as áreas mais acessadas. Até porque a gravidade de uma dissertação não me permite outros cuidados. Ou se a termina ou ela nos extermina. Por isso, destaco obras como A religião na sociedade pós-moderna, de Stefano Martelli, e o já clássico A sociedade do espetáculo, de Guy Debord e sua leitura pessimista e apocalíptica da relação mídia-espectador. Ambas, para ler com distanciamento crítico mais que apurado.
Enfatizo também Reading Pop, edição organizada por Richard Middleton que é ótima introdução ao campo da análise textual da música popular, e Hibridismos Musicais, de Herom Vargas, que parte da cena musical recifense de meados dos anos 90 para explicar as misturas culturais que estão no caldo da invenção musical popular.
No estudo da música gospel nacional, ponto central da minha pesquisa, Magali Cunha, professora da Universidade Metodista (SP), publicou sua tese com o título Explosão Gospel, uma investigação vigorosa dos traços de uma cultura gospel identificada com o consumismo e o mercado. Já no livro Apostles of Rock (sem tradução no Brasil), os autores Jay Howard e John Streck dissecam as estruturas do gospel norte-americano ao examinar seu desenvolvimento e sua interação com a cultura pop bem como o diversificado entendimento dos músicos cristãos sobre a música (incluindo aquela visão excessivamente utilitária da música).
Fora do âmbito da dissertação, no campo da religião destaco Ortodoxia, de G. K. Chesterton, pensador católico que, no início do século XX, era um inteligentíssimo apologista do cristianismo, e Mensageira do Senhor, de Herbert Douglass, um exame acurado, amplo e essencial para se compreender a vida digna e a natureza da obra da escritora adventista Ellen White.
Sobrou tempo para ler (de tempo não pude reclamar) O Som e o Sentido, de José Miguel Wisnik, um escritor que cumpre o que promete no subtítulo, a saber, apresentar “uma outra história das músicas”; e, ainda Vida Líquida, do meu sociólogo de cabeceira, como disse o amigo virtual Douglas Reis.
A dissertação ocupou quase o total da literatura a que tive acesso. Assim, nunca li tão pouca ficção desde que devorei a coleção de Jules Verne do meu pai nos antediluvianos anos 80. Os dois únicos: Os Tambores de São Luís, de Josué Montello, com o período da escravidão na capital maranhense servindo de fundo para a emocionante história pessoal de um ex-escravo, e a releitura - interrompida - de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, escritora que sabia dosar como poucas uma aguda inteligência na condução dos romances e uma fina ironia na observação dos costumes sociais (comecei a reler esse livro por causa de um ótimo filme homônimo baseado nessa obra).
Para 2009, desejo a todos nós happy new books. Mas, acima de tudo, que possamos desenvolver felizes olhos novos e deixarmos este ensaio de uma cegueira em que vivemos a fim de enxergarmos com os olhos da razão onde a razão é necessária e com os olhos da fé quando a fé está esquecida.
Acima, serigrafia de Amir Brito Cadôr (à direita) sobre detalhe de pintura de Boticelli (à esquerda).
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