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Música sacra através dos tempos


Entreouvido num auditório de uma importante universidade do interior paulista onde um grupo vocal acaba de testar a comunhão da platéia.
“Esse novo grupo está trazendo a música popular para a igreja. Música sacra era mesmo no tempo dos discos dos Heritage Singers”.

Em um templo dos anos 80:
“Esses Heritage Singers são a cópia dos Carpenters. Música sacra mesmo era nos tempos de Henry Feyrabend e os Arautos do Rei”.

Em uma igreja dos anos 60:
“Esses que se dizem Arautos do Rei são uns arautos é da tradição dos quartetos de barbearia dos Estados Unidos. Música sacra mesmo existiu nos tempos de Ira Sankey”.

Em um acampamento de reavivamento durante a Grande Depressão em 1929:
“Agora temos que cantar essas valsas de Ira Sankey. Só ouvi música sacra quando cantávamos os hinos de Lowell Mason”.

Em encontro de ministros de música americanos em 1890:
“Esse Lowell Mason imita a tradição européia daqueles músicos maçons. Bom mesmo é quando adaptávamos as canções tipicamente americanas de Stephen Foster”.

Em uma congregação na Chicago de 1860:
“Como podemos adorar com esse piano de cabaré e estas canções adaptadas do teatro de Stephen Foster? Ah, como era bom quando erguíamos nossa voz ao som dos hinos dos irmãos Wesley”.

Em uma palestra sobre música em 1800:
“Irmãos, abandonemos esse cancioneiro popularesco dos Wesley e adoremos com os antigos e sacros hinos do doutor Isaac Watts”.

Nos cultos dos recém-independentes americanos em 1776:
“Essas notas do irmão Watts ferem os ouvidos mais convertidos. Música sacra eram apenas os salmos de João Calvino. Oh, que belos hinos se cantam lá na Europa”.

Em uma igreja luterana alemã de 1730:
“O novo organista, o tal Bach de quem falam, tem um estilo um tanto ultrapassado e escreve notas demais nas suas cantatas. Por que ninguém compõe mais como Lutero?”

Em um concílio eclesiástico no século XVI:
“Esse Lutero destruiu a beleza da santidade da liturgia. Agora o povo anda a cantar melodias de cavaleiros”.
“E, como se não fora o bastante, cantam em língua de homens! Por isto e muito mais, excomunguemo-lo”.

Do lado de fora do templo de Salomão recém-inaugurado:
“É, a música é decerto boa. Mas o pai dele escrevia letras mais sacras”.
“Davi? Qual o quê! Fomos obrigados a cantar salmos com a melodia de ‘Os lírios’ ou de ‘Os lagares’, lembra?”.
“É que as pessoas aprendem um cântico novo mais rápido quando já conhecem a melodia”.

“Aquietem-se, os dois! Vós sois jovens em demasia. Se a ciência já tivesse se multiplicado eu vos mostraria uma gravação do tempo dos cânticos de Moisés. Aquilo, sim, é que era a verdadeira música sacra”.


Acima, a tela "Anjos cantando e tocando música", 1432, de Jan van Eyck.

Comentários

aaaaaaaaaaaaamei, meu querido...
shabbat shalom para vc...

PS: preciso de uma aulinha em música sacra contigo, hein?
joêzer disse…
obrigado mesmo, amigo.
Julison disse…
A minha risada foi tão grande quanto o aprendizado musical que tive ao ler esse texto.
Anônimo disse…
realmente a questão "Música" na nossa igreja é polêmica neh!

e é interessante aprender sobre o desenvolvimento que ela teve ao longo dos anos, parabéns pela matéria!

eu estou muito intrigado com esse assunto, pois música é a área que mais atuo na igreja..

Joêzer, não sei se eu estou certo ou estou errado, quem sou eu pra questionar algo que vai muito além do que eu jah aprendi, sou uma criança nesse assunto... + eu quero dizer minha opinião, comenta sobre ela depois! =) estamos aqui pra aprender ^^

bom, nunca tivemos um acesso tão fácil à música como hoje, ela está em grande desenvolvimento na igreja. Tantos solistas, tantos grupos e quartetos gravando e produzindo.. cada qual com sua característica (mais animado, dramático reflexivo, e por aí vai..)... e somado a tudo isso, algumas polêmicas surgem questionando alguns estilos.

o ponto de vista que eu tenho, baseado em tudo que já conversei, aprendi e li é esse:

- A música que o cristão deve escolher para ouvir ou cantar (seja na igreja, em casa enquanto arruma o quarto, medita, lê, indo pro trabalho ouvindo mp3, etcccs²²²³) é aquela que o aproxima de Deus e louva Seu nome. Se é para louvar, e Deus é onipresente, o cristão deve ouvi-la como se o trono dEle estivesse ali e Ele estivesse sentado apreciando e se sentindo feliz com seu louvor, que mesmo imperfeito e dissonante aos Seus ouvidos, está sendo feito de coração. EU (opinião própriaa) não consigo ouvir uma música gospel que se assemelha a rock ou samba tendo essa visão de adoraçào e louvor descrita na frase anterior. O Criador, Juiz, Redentor e Salvador, merece as mais solenes e sinceras melodias, e sinceramente um samba, rock, sertanejo, (entre outros) com letra que diz respeito a Deus, não provocam solenidade, nem nas reações emocionais e físicas sobre nosso corpo...

Ellen White, em algumas descrições sobre música, revela que a música deve acalmar o espírito, trazer paz, para uma profunda meditação e comunhão com Ele.. eu não me lembro de ter lido algo de Ellen white que revela alguma acepção a esse ou aquele instrumento, me lembro dela ter dito que qualquer ato, imagem, impressão, pensamento que não seja compatível com adoraçào e reverência a Deus, causado pela música ou pelo adorador, qualquer coisa ou exagero que desvie do verdadeiro foco, deve ser identificada e liquidada.

outra coisa que eu penso muito é em relaçào ao que a música tocada na igreja vai provocar nas pessoas visitantes, a antençào delas deve ser chamada por uma música quase igual à que elas ouvem lá fora, ou devem ser chamadas pelo sentimento de profunda aproximação do espírito santo, reflexão e entrega, que uma música solene provoca? [vale citar, que solene, não é música triste, é música que traz paz e pode ser feliz também!]
..

numa parte da matéria do Valdecir Lima, ele diz que a música deve trazer união.. concordo plenamente com ele.. mas é realmente união e adoraçào que algumas músicas atuais estão provocando? ou são pensamentos tipo.. "Noossa, eles cantam muitoo, que técnica!" ou "Se esse grupo cantasse na minha igreja, todo mundo ia ir embora!" ou "Essa bateria tá muito exagerada, atrapalha pra ouvir a letra, não dá nem pra meditar, só pra dá pra prestar atenção nessa bateria!"... é claro que entre seres humanos pecadores como nós, união completa, em qualquer sentido que seja, é complicada de acontecer, quase impossível aos nossos olhos... mas quando Deus está na vida de cada um, a cena muda.

nossa escrevi muito,..

Joêzer, se eu estiver equivocado em algo (ou tudo) o que eu disse, por favor, me ajude =)

que Deus esteja com cada um de nós, colocando em nossos corações a Sua vontade, e que Ele nos guie a chegar num concensso sobre esse assunto!

Bom sábado, e feliz natal

Grande abraço
joêzer disse…
zilmo,
o assunto é complexo mesmo, e a caixa de comentários não vai resolver.
por partes:

gospel - a maioria dos adventistas não aceita o samba ou o rock como estilos de adoração apropriados. já os grupos pentecostais mais recentes convivem melhor com esses gêneros musicais e os adotam com fins evangelísticos.
imitar o proselitismo pentecostal é cair num pragmatismo do tipo "os fins justificam os meios".

música da igreja - a IASD possui um estilo musical que, mesmo variado, ainda conserva unidade e identidade reconhecíveis. se os músicos entenderem que todo gênero musical é apropriado para o louvor, qualificando como aceitável toda forma de cultura musical, a igreja perde seu caráter de distinção.
mas essa afirmação de identidade da IASD não pode ser exclusivista, isolacionista ou autoritária.

às vezes, me parece que falta noção a alguns cantores na hora de selecionar o repertório ou na maneira de interpretar seus hinos.
e há dirigentes musicais que não compreendem o valor e a função da liturgia no culto, transformando o que poderia ser alegre reverência ou em solenidade fúnebre ou em algazarra de ruídos.

estudemos mais a questão e busquemos a comunhão fraternal e espiritual.

abraços
joêzer disse…
zilmo,
aqui no blog, na seção "música e religião", há outros textos que podem ajudar também.
Elias Derevecki disse…
Penso que o mais importante é cada Cristão ter claro O PORQUÊ da música na própria vida. “Fazia-se com que a música servisse a um santo propósito, a fim de erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre e edificante, e despertar na alma devoção e gratidão para com Deus. Que contraste entre o antigo costume, e os usos a que muitas vezes é a música hoje dedicada! Quantos empregam esse dom para exaltar o “eu”, em vez de usá-lo para glorificar a Deus!” (PP. 12ª ed., de 1991, pág. 637)
Unknown disse…
Otimo o artigo! Mas temos que ter o bom senso e joelho no chao. Deus nos conduz. A musica tem wue cumprir seu papel de levar as boas novas, louvar a Deus e elevar nossos pensamentos. Nao cumprindo isto estamos fora dos planos de Deus. Alem da ciencias ja ter muitas evidencias da influencia de alguns ritmos no lobo frontal, fazendo com que percamos o poder de escolha e abrindo uma porta para o Inimigo de Deus em nossa mente. Leiamos mais com reflexao divina.
Unknown disse…
Kkkk muito bom!

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